quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

As representações da malária na obra de João Guimarães Rosa (pre.univesp.br)

Autor combina a linguagem do sertão com fidedignidade médico-científica 

Norinne Lacerda-Queiroz 

11/11/15 

A malária é doença parasitária, considerada enfermidade negligenciada que permanece como grave problema de saúde pública, apesar dos esforços dispensados para seu controle. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2013), aproximadamente 3,3 bilhões de pessoas vivem em áreas de transmissão da doença, com incidência de 198 milhões de casos em 2013, que resultam na morte de 548 mil pessoas, especialmente em decorrência da forma complicada da malária. Os países da África tropical respondem por 90% dos casos clínicos de malária no mundo e pela maioria dos casos letais, predominantemente em crianças que vivem em áreas rurais, com difícil acesso a serviços de saúde. 

No Brasil, mapas de Domingos de Almeida Martins Costa, datados de 1885 (citados em Camargo, 2003), indicam que a Amazônia e todo o planalto central viviam imersos na malária ou maleita, conforme a terminologia da época (Camargo, 2003). Na década de 1940, a malária acometia cerca de seis milhões de brasileiros por ano, em todas as regiões do país. O Serviço Nacional de Malária, implantado em 1941,tornou-se o órgão responsável pela coordenação e centralização de todas as campanhas sanitárias de combate à malária no território nacional. Em 1955, o Brasil adotou a Campanha da Erradicação da Malária, instaurada pela OMS, que alcançou o objetivo de controlar, mas não de erradicar a doença. As mudanças sociais ocorridas e o intenso trabalho de combate à malária possibilitaram o seu relativo controle: a doença passou a apresentar ocorrência de menos de cem mil casos anuais e restringiu-se espacialmente a áreas de proximidade da floresta, na Amazônia Legal (Brasil, s.d.). A partir da década de 1960, no entanto, com o rápido e desordenado processo de assentamento agrícola na região Amazônica, houve aumento progressivo na transmissão da doença e consequente incremento do número de casos notificados no país (Marques, 1986; Oliveira-Ferreira et al., 2010). Atualmente, o maior número de casos (99,7%) é verificado na Amazônia Legal, com a incidência de 120.387 casos em 2014 (Datasus). 

A malária é causada pelo protozoário do gênero Plasmodium, parasito intracelular obrigatório que apresenta dois hospedeiros, um vertebrado e outro invertebrado. A transmissão natural dá-se pela picada das fêmeas infectadas dos mosquitos do gênero Anopheles (Garnham, 1966). Classicamente, quatro espécies de Plasmodium são descritas como agentes causadores da doença em humanos: Plasmodium vivax, Plasmodium malariae, Plasmodium ovale e Plasmodium falciparum, esta última causadora de uma forma particularmente grave da doença, muitas vezes mortal (Miller et al., 2002). 

Em função do seu impacto, a malária é condição presente em relatos históricos desde a Antiguidade, o que desperta também o interesse de escritores de várias épocas. Neste artigo, discorre-se sobre fatores históricos, científicos e literários da doença, com ênfase nas imagens da malária na obra do escritor Guimarães Rosa (1908-1967). 

A malária e Guimarães Rosa 

Ao retratar a realidade brasileira, autores como Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa trataram de doenças infectocontagiosas (Barros, 2006). Apesar da descoberta do agente causador da malária em 1880, a doutrina miasmática persiste no imaginário popular, e assim também é retratada na literatura. Em 1897, Euclides da Cunha, jornalista e engenheiro militar, cobre a Guerra de Canudos, como enviado do jornal O Estado de S. Paulo. No livro Os sertões, cita brevemente a doutrina miasmática: “cada banhado, cada lagoa efêmera, cada caldeirão encovado nas pedras, cada poça de água – é um laboratório infernal, destilando a febre que irradia latente nos germens do impaludismo, profusamente disseminados nos ares” (Cunha, 2000, p.490). 

A malária também está constantemente presente na obra de Guimarães Rosa, escritor brasileiro que nasceu em Cordisburgo (MG), em 1908. Graduou-se em medicina em 1930 e, recém-formado, clinicou, durante cerca de um ano e meio, na pequena Itaguara, então distrito de Itaúna (MG). Exerceu o ofício até 1934, quando abandonou a medicina para abraçar a carreira diplomática. Paralelamente ao exercício da diplomacia, Guimarães Rosa dedicou-se, de corpo e alma, à literatura (Rocha, 2002). Estreou com o livro de contos Sagarana, escrito em 1937 e publicado em 1946. Sua consagração veio dez anos depois, com o romance Grande sertão: veredas. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1963, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em 1967, assumiu a cadeira 2 da Academia, falecendo três dias depois (Fundação Guimarães Rosa, s.d.). Em sua obra, Guimarães Rosa procurou recriar a linguagem do sertão, adicionando intervenções linguísticas surpreendentes e elementos do universo da oralidade (Oliveira, 2008). 

A obra roseana apresenta caráter profundamente humano, associado a nuanças poéticas, sendo considerada inovadora na literatura brasileira moderna (Reinaldo, 2008). Rosa demonstra obsessão pelos detalhes da língua e da geografia sertaneja, fruto das suas anotações e vivências, que garantem veracidade à narrativa. A pobreza, a miséria material e espiritual no grande sertão brasileiro são denunciadas ao longo da vasta obra desse escritor. Como médico, Guimarães Rosa conviveu com o sofrimento de pacientes portadores de doenças paradigmáticas de sua época (malária, hanseníase, tuberculose, varíola) (Goulart, 2011). Apesar de ter abandonado a medicina, Rosa vale-se do conhecimento privilegiado no assunto, e a sua experiência médica permanece entremeada em seus textos (Reinaldo, 2008; Goulart, 2011). 

Um dos diferenciais da literatura roseana, frente aos textos regionalistas que a precedem, é a ausência da polaridade linguagem popular das personagens versus linguagem ‘culta’ do narrador (Rios, 2006), o que se contrapõe ao conceito de oralidade transfigurada. Ao articular elementos orais e escritos em sua obra, com descrições neutras e fiéis, o escritor, com habilidade única, alcança posição excepcionalmente privilegiada e transita entre dois mundos, como um “mediador cultural”, nos termos de Vovelle (2004). Dessa forma, Rosa caminha por esse limiar popular versus erudito, conciliando contrários e trazendo o popular pelo viés erudito em cada passo de sua obra. No livro Grande sertão: veredas, ele enxerta na fala do narrador-personagem, o jagunço Riobaldo, a voz de outras línguas e a simbologia de outros povos. Adicionalmente, o interlocutor letrado (o próprio Rosa [?]) não tem fala própria e só revela seus atos verbais via o próprio narrador. Um deslocamento ímpar na literatura: o intelectual silencia e deixa falar seu personagem-narrador, em irônica encenação, com papéis invertidos (Lobo, 2006). 

Sarapalha 

A malária é o foco principal do conto “Sarapalha”, da obra Sagarana. Essa narrativa se apresenta em terceira pessoa, com predominância de narrador onisciente, observador e cúmplice da trágica e triste história. Um ponto interessante nesse conto é a cuidadosa e atenta narrativa da malária, fidedigna à literatura científica, mas expressa na linguagem do sertanejo. 

O cenário da narrativa é a fazenda “denegrida e demantelada” do primo Ribeiro, decrépito pela maleita e sucumbido pelo abandono da mulher infiel. A seguir, um relato do ambiente de desolação e morte em que se transformou a fazenda situada no vau da Sarapalha: Tapera de arraial. Ali, na beira do rio Pará, deixaram largado um povoado inteiro: ... E o lugar já esteve nos mapas, muito antes da malária chegar. Ela veio de longe, do São Francisco. Um dia, tomou caminho, entrou na boca aberta do Pará, e pegou a subir. Cada ano avançava um punhado de léguas, mais perto, mais perto, pertinho, fazendo medo no povo, porque era sezão da brava – da ‘tremedeira que não desamontava’ – matando muita gente. – Talvez que até aqui ela não chegue... Deus há-de... Mas chegou; nem dilatou para vir. E foi um ano de tristezas. ... Então, houve gente tremendo, com os primeiros acessos da sezão. – Talvez que para o ano ela não volte, vá s’embora... Ficou. Quem foi s’embora foram os moradores: os primeiros para o cemitério, os outros por aí a fora, por este mundo de Deus (Rosa, 2001, p.151, 152). 

Restaram nesse ambiente devastado três pessoas: a preta velha Ceição, que cozinhava o feijão de todos os dias, primo Ribeiro e primo Argemiro. Estes dois últimos, impossibilitados de trabalhar, observavam a doença avançar em si mesmos, sobrevivendo à irredutibilidade e agressividade da malária. 

Naturalmente, a doença é transmitida através da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectado, considerado o único vetor nos casos humanos. O principal vetor no Brasil, Anopheles darlingi, apresenta hábitos antropofílicos com atividade cíclica contínua durante toda a noite, com pico nos crepúsculos matutino e noturno (Tadei, Thatcher, 2000). Essa característica, assim como a descrição de caracteres da morfologia externa do vetor, é bem abordada na narrativa: O mosquito fêmea não ferroa de-dia; está dormindo, com a tromba repleta de maldades ... Primo Ribeiro dormiu mal e o outro não dorme quase nunca. Mas ambos escutaram o mosquito a noite inteira. E o anofelino é o passarinho que canta mais bonito, na terra bonita onde mora a maleita. É de-tardinha, quando as mutucas convidam as muriçocas de volta para casa, e quando o carapanã rajado mais o moçorongo cinzento se recolhem, que ele aparece, o pernilongo pampa, de pés de prata e asas de xadrez. Entra pelas janelas, vindo dos cacos, das frinchas, das taiobeiras, das bananeiras, de todas as águas, de qualquer lugar (Rosa, 2001, p.153, 154). 

Por intermédio do programa “Quinina Oficial”, a população rural afligida pela malária tinha acesso ao fármaco quinino. Entretanto, o uso excessivo do medicamento produzia sinais de toxicidade, com efeitos colaterais indesejados, relatados no conto: Olha o mosquito-borrachudo nos meus ouvidos, Primo!... É a zoeira do quinino... Você está tomando demais...” (Rosa, 2001, p.154). 

A zoeira no ouvido, denominada chinchonismo ou tinnitus, pode associar-se à sensação de ansiedade, uma característica que pode ser observada na sequência da narrativa. 

A semiologia da malária é geralmente pouco específica e decorre inicialmente da fase eritrocítica da infecção. A tríade clássica (febre, cefaleia e calafrio) confunde-se com sintomas apresentados em outras doenças infecciosas. Apesar da baixa especificidade, o ataque agudo de malária caracteriza-se por um conjunto de paroxismos febris que apresentam períodos sucessivos de calafrio, calor e sudorese, que constituem o acesso malárico. Os calafrios distinguem-se pela sensação de frio intenso, tremor generalizado e ranger dos dentes. Esses episódios são, em geral, acompanhados de profundo mal-estar, dores musculares e articulares, manifestações digestivas (náuseas, vômitos e dor abdominal intensa), forte cefaleia e, eventualmente, delírio ou confusão mental. Após essa fase, instala-se um quadro de febre alta e adinamia intensa. Ao final da fase febril, os sintomas cessam, e o doente tem a sensação de alívio e de tranquilidade. Esse acesso pode repetir-se todos os dias ou a intervalos de um ou dois dias, por tempo variável. Mas eles ainda não tremem: frio mesmo frio vai ser d’aqui a pouco. ... – Ei, Primo, aí vem ela... – Danada!... – Olh’ele aí... o friozinho nas costas... E a maleita é a ‘danada’ ... – Está custando, Primo Argemiro... – É do remédio... Um dia ele ainda há-de dar conta da danada!... ... Mas eles estão esperando é a febre, mais o tremor (Rosa, 2001, p.154-155). 

A doença também se faz acompanhar de aumento perceptível do baço (esplenomegalia), como relatado no diálogo entre os primos Argemiro e Ribeiro. Na linguagem do sertanejo, uma das variantes para o termo baço é ‘passarinha’ (Cascudo, 2002): – O seu inchou mais, Primo Argemiro? – Olha aqui como é que está... E o seu, Primo? – Hoje está mais alto. – Inda dói muito? – Melhorou. É da passarinha. No vão esquerdo, abaixo das costelas, os baços jamais cessam de aumentar (Rosa, 2001, p.156). 

Por meio do relato seguinte, da visita do doutor “apessoado” ao vilarejo, o universo científico confronta-se com o popular, salientando-se uma relação de desconfiança deste em relação àquele: – ... O doutor deu prazo de um ano... Você lembra? – Lembro! Doutor apessoado, engraçado... Vivia atrás dos mosquitos, conhecia as raças lá deles, de olhos fechados, só pela toada da cantiga... Disse que não era das frutas e nem da água... Que era o mosquito que punha um bichinho amaldiçoado no sangue da gente... Ninguém não acreditou... Nem no arraial. Eu estive lá, com ele... – ...E então ele ficou bravo, pois não foi? Comeu goiaba, comeu melancia da beira do rio, bebeu água do Pará, e não teve nada... – Depois dormiu sem cortinado, com janela aberta... Apanhou a intermitente; mas o povo ficou acreditando... (Rosa, 2001, p.158-159). 

Rosa, narrador em terceira pessoa e médico em sintonia com os estudos sobre a etiologia da malária e seu modo de transmissão, destaca o controle da doença, com ênfase na proteção contra as picadas de mosquitos e no uso da quinina. Por fim, o doutor da narrativa desiste de lutar contra a malária e abandona o povoado, alertando a população para fazer o mesmo: – Escuta, Primo Ribeiro: se alembra de quando o doutor deu a despedida p’ra o povo do povoado? ... Ele ajuntou a gente... Estava muito triste... Falou: – ‘Não adianta tomar remédio, porque o mosquito torna a picar... Todos têm de se mudar daqui... Mas andem depressa, pelo amor de Deus!’... (Rosa, 2001, p.159-160). 

Por motivos distintos, os dois personagens persistiram na fazenda, entregues à malária e aos acessos febris, por vezes diários. A ‘terçã benigna’, causada pelo P. vivax, apresenta caráter recidivante que tende a ressurgir depois de variáveis períodos de cura aparente. Isso ocorre porque nas células do fígado da pessoa infectada podem permanecer algumas formas em hibernação, os hipnozoítos, responsáveis por novos ataques clínicos, conhecidos como recaídas tardias. Além disso, o indivíduo pode receber inóculos infectantes em dias sucessivos, e os parasitos podem estar em etapas evolutivas diferentes, interferindo na periodicidade dos episódios febris (White, 1996). Essas nuanças fisiopatológicas da infecção podem também ser evidenciadas na narrativa de Guimarães Rosa, quando refere (equivocadamente [?]) a distintas populações de parasitos no baço de um dos protagonistas: “Primo Ribeiro levantou os ombros; começa a tremer. Com muito atraso. Mas ele tem no baço duas colmeias de bichinhos maldosos, que não se misturam, soltando enxames no sangue em dias alternados. E assim nunca precisa de passar um dia sem tremer” (Rosa, 2001, p.162, adição dos autores). 

A malária, contudo, era o mal menor que afligia o primo Ribeiro: Luísa, sua mulher, fugira com o boiadeiro, deixando-o só. Assim, os acessos da doença coincidem com as tristes lembranças. – Olha o frio aí, Primo Argemiro... Me ajuda.... Enrola-se mais no cobertor. Os dentes se golpeiam. Desencontrados, dançam-lhe todos os músculos do corpo. – Quer o remédio, Primo? – Não vou tomar mais... Não adianta. Está custando muito a chegar a morte... E eu quero é morrer. ... Primo Argemiro se agarrou com as mãos nos joelhos. Os maxilares estrondam; só param de bater quando ele faz vômitos (Rosa, 2001, p.162-163). 

Na fase febril, os pacientes com malária podem apresentar confusão mental ou delírio, o que parece ocorrer com os protagonistas. 

Passado o frio, passada a tremura, vem a hora de Primo Ribeiro variar. Primo Argemiro não gosta. Não se habitua àquilo. Ele, nos seus acessos, não varia nunca: não tem licença: se delirar, pode revelar o seu segredo. ... – Ô calorão, Primo!... E que dor de cabeça excomungada! ... – Ai, Primo Argemiro, está passando... Já estou meio melhor... Será que eu variei?... Falei muita bobagem?... – Falou não, Primo... D’aqui a pouco é a minha vez... Não dilata p’ra chegar... Sim, d’aqui a pouco vai ser a sua hora. Aqui a febre serve de relógio. Ele já está ficando mais amolecido. Também deve ser de ter pensado muito (Rosa, 2001, p.166, 168). 

Primo Argemiro se sente mal e resolve confessar seu grande segredo, seu amor a Luísa, a esposa infiel de primo Ribeiro. Este, apesar da febre e da fraqueza, enxota-o da sua presença; Argemiro reúne suas forças e sai perambulando, com os primeiros sintomas da tremedeira por entre as belezas do lugar. – O primeiro calafrio... A maleita já chegou... Outro grande arrepio. Que frio! ... O começo do acesso é bom, é gostoso: é a única coisa boa que a vida ainda tem. Para, para tremer. E para pensar. Também. ... – Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!... É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão (Rosa, 2001, p.172-173). 

Considerações finais 

O objetivo deste trabalho foi recuperar as imagens da malária na medicina popular e na literatura, por meio da obra do escritor Guimarães Rosa, tendo como pano de fundo conhecimentos aceitos no campo médico e algumas noções que, possivelmente, ainda persistem no senso comum popular. Rosa procurou dar voz ao homem do sertão, utilizando elementos de sua formação científica e de sua vivência pessoal para compor suas ‘estórias’. A experiência médica do autor teve importância decisiva na construção literária, com relatos, ora poéticos, de algumas enfermidades em sua literatura. 

Com admirável maestria, articula elementos orais e escritos em sua obra, transitando entre dois mundos e atuando na condição de “mediador cultural”, como proposto por Vovelle (2004). Assim, narrador-personagem e pesquisador da cultura sertaneja, Guimarães Rosa perpetua o universo dos miasmas na voz do sertanejo. Quando narrador em terceira pessoa, utiliza-se da formação em medicina e do conhecimento de teorias científicas para explicar a malária a partir do paradigma pasteuriano. 

No conto “Sarapalha”, Rosa interpõe as duas teorias acerca da transmissão da malária, verbalizadas e separadas em dois tipos de personagens: o sertanejo (primo Ribeiro e primo Argemiro) e o doutor “apessoado”, este em sintonia com os estudos sobre a etiologia da malária e seu modo de transmissão. No romance Grande sertão: veredas, publicado posteriormente, a teoria miasmática prevalece na narrativa do personagem Riobaldo (voz do sertanejo). Dessa forma, não se pode falar em “amadurecimento científico” do autor em relação à transmissão da doença ao longo dessas obras. Também é válido destacar a ausência de correlação cronológica exata entre os textos e as experiências pessoais que podem estar envolvidas em cada obra. Pode-se dizer, no entanto, da facilidade com que Rosa transita entre o conhecimento científico e a medicina popular, além da fidelidade às informações e à realidade do período relatado. 

Este texto é uma versão parcial do artigo foi publicado originalmente na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 19, n.2, abr-jun. 2012, p. 475-489. 

A versão integral do artigo e as referências mencionadas no texto podem ser consultadas no link: As representações da malária na obra de João Guimarães Rosa. Os autores são: Norinne Lacerda-Queiroz, Antônio Queiroz Sobrinho e Antônio Lúcio Teixeira. 

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