Chapada teve durante anos conflito entre fazendeiros e camponeses. Há oito anos a área passou a ser de uso das populações tradicionais.
Bacuri, Platonia insignis. Foto de Hellen Perrone / Wikipédia
Uma floresta com árvores frutíferas resiste imponente no coração do cerrado maranhense. O bacurizeiro alcança o teto da mata e se mostra superior em meio a vegetação retorcida de Chapada Limpa, no leste do Maranhão. Este imenso pomar selvagem por muito pouco não desapareceu para dar lugar ao agronegócio. Em vinte anos, 70 mil hectares de cerrado foram desmatados na região do baixo Parnaíba para o plantio de soja.
Os sertanejos tiveram que se unir e reagir para manter o cerrado em pé. Há oito anos uma área com 11.977 hectares foi considerada unidade de conservação federal e passou a ser de uso das populações tradicionais da região.
O bacuri acabou se tornando o fruto símbolo da Reserva Extrativista (Resex) de Chapada Limpa. A reserva foi criada para proteger o modo de vida dos extrativistas e uso sustentável do cerrado. Foi um alívio para cerca de 120 famílias. Gente como o seu Manoel que sempre dependeu do extrativismo do bacuri, uma das frutas mais saborosas da Amazônia. “Se eu juntava um cento era 50 meu e 50 do outro cara que dizia que era dono. Hoje em dia se eu junto 100 bacuris, 200, 300, mil tudo é meu”, disse Manoel Rodrigues, membro do conselho deliberativo da Resex Chapada Limpa.
A criação da Resex de Chapada Limpa foi estratégica para a conservação de um dos biomas mais ameaçados do país, sobretudo neste canto do leste maranhense. E a primeira ser criada no bioma cerrado no Maranhão. Serviu também para pôr fim a um longo período de tensão social na região. A chapada esteve durante anos no meio de um conflito entre fazendeiros e camponeses.
As poluções tradicionais agora podem transitar livremente e usar de modo sustentável tudo que o cerrado oferece. “A gente nem sabe até quando vai esse valor, até onde vai porque pra mim no caso ele tem um valor extraordinário”, disse José Viana, presidente da Associação de Moradores de Chapada Limpa.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) cuida da gestão das reservas extrativistas, mas são as populações nativas que tem a tarefa de cuidar dos recursos naturais da reserva. “A manutenção dessas comunidades e seus territórios, o uso que elas fazem de forma sustentável é fundamental para a conservação da biodiversidade. Sem elas, muitos desses territórios nem existiriam mais”, disse Kátia Barros do Instituto Chico Mendes.
A recompensa pelos serviços prestados à natureza vem surgindo aos poucos para cada uma das famílias. Com as conquistas vieram também os compromissos levados a sério em Chapada Limpa. “Nós pescava, desmatava, acabava com tudo. Não tinha esse conhecimento”, disse o extrativista José Pereira Costa.
Conservar a floresta e o bacurizeiro representa a esperança de uma vida melhor no sertão. “Saber que ali é um lugar da gente cuidar e ter um retorno muito maior”, finalizou disse José Viana.
Fonte: Territórios Livres do Baixo Parnaíba
Publicado no Portal EcoDebate, 16/06/2015
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