Café. Foto Embrapa
[EcoDebate] Já se encontra em operação o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira, que tem viabilizado junto à Embrapa Café principalmente, a destinação de recursos e a viabilização de pesquisas que propiciam o desenvolvimento de cultivares, adaptação climática às várias regiões produtoras no país, manejos de culturas, estresse biótico e abiótico de culturas de café, tecnologias e mecanismos de defesa contra pragas e infestações e várias outras situações que envolvem a economia cafeeira.
Esta iniciativa deve ser saudada, pois tem viabilizado a contratação de projetos de pesquisa com focos temáticos de grande interesse, atuando em harmonia com as maiores demandas da sociedade, que é a execução de procedimentos ambientais em busca da sustentabilidade. Projetos divulgados recentemente pela Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, envolvem os temas de sustentabilidade da cafeicultura na montanha, estresses bióticos e abióticos, projetos na área de qualidade e marketing e estudos sobre deficiências encontradas nos processos de transferência de tecnologia.
Particularmente, os melhoramentos genéticos e adaptações às condições locais, o desenvolvimento de cultivares com elevado potencial de produtividade e qualidade e apropriações tecnológicas no manejo de pragas, fazem do país um líder mundial em tecnologias de produção na cultura cafeeira.
Se sabe que existem produção e produtores de café orgânico, mas se respeita as opções individuais e as vontades pessoais de cada produtor. Mas certamente não haveria qualquer desperdício em procurar exercitar e desenvolver mecanismos que atuassem no sentido de procurar integrar cada vez mais a cultura com as características dos diversos ecossistemas e biomas, nos quais existem cultivos de cafezais. E esta é uma lavoura que existe desde o Paraná até o extremo norte do país.
O site da EMATER de Minas Gerais (consultado em 28/08/2014), notícia o programa “Certifica Minas Café”, identificando que cerca de 1.600 propriedades produtoras seriam certificadas até o final de 2012. O programa é uma iniciativa do governo estadual e executado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), por meio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-MG) e do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O Certifica Minas Café estimula os produtores a adotarem boas práticas de produção, uma gestão moderna da propriedade e incentiva a preservação ambiental. O programa merece ser saudado, porque viabiliza mudanças que toda sociedade anseia.
Técnicos da EMATER de Minas Gerais orientam os produtores que posteriormente se submetem a uma checagem do Instituto Mineiro de Agropecuária e em seguida uma certificadora de reconhecimento internacional faz a auditoria final e concede a certificação para as propriedades.
O programa enfatiza as boas práticas de cultivo e manejo, ressaltando a permanente necessidade de equilíbrio entre produção e aspectos ambientais. Em Minas Gerais a cafeicultura está situada nas principais bacias hidrográficas do Estado, que é responsável por mais de 50% da produção nacional.
Notícias do site da EMATER de Minas Gerais indicam a existência da necessidade de se submeter a 95 itens para certificação, sendo 34 itens voltados para a preservação ambiental, com ênfase à conservação de recursos hídricos, que conta com 23 itens específicos. Em todas as propriedades, é enfatizada a proteção das nascentes existentes, que devem estar protegidas para evitar pisoteio por animais e consequente compactação, que dificulta a recuperação de matas ciliares.
A manutenção de vegetação entre as linhas do cafeeiro, a construção de caixas de contenção de enxurradas e a realização de roçadas para controle de matas, estão entre as práticas que melhoram a infiltração de água no solo, reduzindo o escoamento superficial e evitando a evapotranspiração. E desta forma favorecendo o desenvolvimento de microfauna, e também flora nos solos, aumentando a biodiversidade e evitando a ocorrência de erosão.
Os preceitos ambientais trabalhados no Certifica Minas Café, incluem adequada destinação dos resíduos sólidos das propriedades e tratamento dos efluentes domésticos e agroindustriais. Plantio de árvores é incentivado permitindo sombreamento da cultura e maior proteção física aos solos, particularmente na infiltração de água.
As águas dos lavadores de café são reutilizadas e os agrotóxicos necessários para a produção convencional são armazenados em locais seguros, com as embalagens sendo devolvidas conforme previsão em locais autorizados.
É certo que o maior desafio é alterar o paradigma de produção convencional para uma forma de produção orgânica com controle biológico de pragas e outras iniciativas de médio e longo prazo, que não produzam ruptura sistêmica ou condições de inviabilidade econômica. Mas experiências como estas fazem acreditar que tudo é possível, a médio ou longo prazo, se houverem mudanças lúcidas e relevantes, sem preconceitos pela alteração de paradigmas, em cenários onde não sejam hegemônicos, apenas interesses econômicos imediatos.
Esta aspiração, não se refere apenas a esta cultura, mas ao conjunto de cultivos agrícolas, mesmo de médio e grande porte, para que se tenha uma agricultura em pleno equilíbrio e harmonia com ecossistemas e biomas, e que torne desnecessária discussão sobre eficiência de moléculas e novos venenos de controle de pragas.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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Publicado no Portal EcoDebate, 18/06/2015
"Sustentabilidade na cultura cafeeira, artigo de Roberto Naime," in Portal EcoDebate, 18/06/2015, http://www.ecodebate.com.br/2015/06/18/sustentabilidade-na-cultura-cafeeira-artigo-de-roberto-naime/.
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