quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Anvisa põe em xeque uso de ervas chinesas em tratamentos

Agência lança consulta pública este mês para regulamentar o uso de compostos fitoterápicos milenares do país asiático


Publicação: 01/01/2013

Brasília – Cada vez mais adotados em tratamentos de saúde, os produtos da medicina tradicional chinesa ainda não estão regulamentados no Brasil. Para legitimar o uso desses terapêuticos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) levará à consulta pública, neste mês, uma proposta de normatização desses compostos fitoterápicos de tradição milenar, utilizados desde o início do século 20 no Brasil.

De acordo com o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, os compostos têm caraterísticas específicas e não estão contemplados nas normas sanitárias do país. “No Brasil, no caso da acupuntura, temos regras para a produção e utilização das agulhas, mas não há normatização dessas fórmulas, que são principalmente à base de plantas.”

Barbano explica que será estabelecido um período de monitoramento de três anos, no qual os profissionais deverão informar os efeitos dos produtos. “Não adianta proibir a medicina tradicional chinesa ou tentar enquadrá-la nas regras de hoje. O objetivo é jogar um pouco de luz sobre essa questão.” A Anvisa considera homeopáticos e fitoterápicos como medicamentos, porém não há regras para produtos da medicina tradicional chinesa, que são manipulados de forma diferente.

Na Ásia, o uso dessas fórmulas causa polêmica, pois muitas delas são produzidas com partes de animais, como chifres e ossos, inclusive de espécies em extinção. A prática é acusada de ser responsável pelo declínio de populações de tigres e rinocerontes no continente. No entanto, a Anvisa afirma que não há no Brasil nenhuma fórmula registrada que misture minerais, animais e plantas e que a entrada no país é proibida. O diretor da Escola Brasileira de Medicina Chinesa, Reginaldo Filho, esclarece que os poucos compostos que chegam ao país são à base de ervas.

A bióloga Taís Benato, de 32 anos, iniciou o contato com as práticas tradicionais chinesas há dois anos para tratar o fígado e a pele. “Tinha uma coceira sem causa aparente que melhorou. O tratamento fortaleceu o fígado, o sistema digestivo e as crises de enxaqueca diminuíram. O efeito foi ótimo, mas não continuei, porque era muito caro.” Hoje, ela recorre a compostos de ervas nacionais.

Segundo Reginaldo Filho, muitas das plantas utilizadas nas fórmulas chinesas podem ser encontradas no Brasil. No entanto, os produtos processados – em cápsulas – precisam ser importados. “A regulamentação é importante para garantir a entrada no país. Hoje, são poucos os lugares que têm esses produtos e os pacientes têm dificuldade em encontrá-los. Com regras claras de importação, é possível que o custo diminua.”

INTERIOR 

Para a professora de fitoterapia chinesa Magali Lobosco, apesar de a procura ter aumentado nos últimos anos, ainda faltam muitos esclarecimentos a respeito do tratamento. “A medicina ocidental ajuda no momento da doença. A chinesa cuida de você quando ainda não está doente. Não é simplesmente tomar um remédio para dor. A maioria das ervas utilizada nos tratamentos são comuns, como gengibre, dente-de-leão, canela e cravo.”

Em 2009, Juliana Pinheiro, de 26, recorreu aos compostos fitoterápicos orientais para o tratamento de cálculo renal. Juliana conta que o problema começou em 2005 e era reincidente. Por não querer fazer uma cirurgia, ela procurou alternativas. “Fiz um tratamento de três meses com um concentrado de ervas que diluía na água. Quando comecei, percebi que houve uma mudança no ritmo do corpo, como se ele estivesse se equilibrando.”

No fim do tratamento, uma ressonância magnética mostrou que os cálculos haviam sumido. “Sou zen budista praticante e já fiz tratamentos homeopáticos, mas essa foi a primeira vez que recorri à medicina tradicional chinesa.” Para ela, o tratamento foi além da cura dos sintomas. “Essa abordagem faz com que você preste mais atenção no corpo e lide com a saúde de forma diferente. Comecei a prestar mais atenção à alimentação e fazer exercícios físicos.”

Link:
http://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2013/01/01/interna_nacional,340502/anvisa-poe-em-xeque-uso-de-ervas-chinesas-em-tratamentos.shtml

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