quarta-feira, 6 de março de 2013

Importância da flora espontânea - XI

Picão branco ou fazendeiro

Texto
Marcos Roberto Furlan (Eng. Agrônomo)
Paloma Cristina da Silva (Acadêmica de Biologia)

Nos quintais, principalmente naqueles em que o solo é rico em matéria orgânica, ocorre uma planta semelhante a uma margarida, mas com flores bem menores. Apesar de não ser nativa, aqui se espalhou, e, atualmente, é encontrada em quase todas as regiões do Brasil e, também, em muitas regiões do mundo, incluindo as mais frias, apesar de ser originária da América Central.

Por ser considerada uma espécie invasora, ou até ser classificada injustamente como planta daninha, a maioria da população ignora os seus usos. É denominada popularmente, dependendo da região, por fazendeiro ou picão-branco, mas há várias outros nomes populares, como, por exemplo, margaridinha, botão-de-ouro e fazendeiro-peludo. Seu nome científico é Galinsoga parviflora Cav., e pertence à família Asteraceae.

O picão-branco é uma planta de porte herbáceo, com altura de aproximadamente 25 a 40 cm, variando muito em função do tipo de solo. É ereta e ramificada, e as suas flores são dispostas em inflorescências do tipo capítulo, de coloração branca nas laterais e amarela na parte central. Os frutos são pequenos e pretos. No Brasil, o seu desenvolvimento ocorre no outono e na primavera, com ciclo vegetativo de aproximadamente 50 dias.

Com relação aos usos em animais, são poucas as pesquisas, mas há relato da utilização tradicional, juntamente com o picão-preto (Bidens pilosa), para desintoxicação, tendo em vista a ação de ambas no fígado, segundo os que a utilizam. No entanto, ainda não há respaldo da ciência para essa finalidade.

Na agricultura, percebemos que, apesar de indicar um solo rico em matéria orgânica, sua presença, quando exclusiva, pode indicar solo desequilibrado com relação aos teores de nutrientes. Normalmente, há bom fornecimento de macronutrientes, com carência de alguns micronutrientes, como o cobre, o qual é importante na defesa das plantas contra patógenos.

Em hortas, quando se utiliza muito esterco (que é pobre em alguns nutrientes, principalmente os micronutrientes) e não se complementa com outros adubos, acaba prevalecendo a ocorrência do picão-branco. Isso serve como alerta para o agricultor, pois na horta ou no jardim em que há predomínio dessa espécie, a adubação está sendo inadequada.

Um uso interessante é colher seus ramos com flores e fazer um arranjo floral com plantas do campo. Assim como algumas espécies que nascem espontaneamente, as flores ficam abertas por um bom tempo após serem colhidas. Somente um cuidado deverá ser tomado, pois há algumas citações sobre causar alergia em quem colhe picão-preto.

Na medicina tradicional, é comum citações sobre o uso para problemas referentes à pele, como coceiras e ulcerações, como broncodilatadora, para gripes e resfriados, além do já citado uso para problemas hepáticos. Apesar de serem encontradas referências sobre o uso do picão-branco por comunidades, ela não é uma das mais conhecidas com relação aos aspectos medicinais pela população em geral.

Como formas de usos tradicionais, são citados os métodos de infusão, de decocção e por meio de compressa, dependendo do tipo de doença.  Por exemplo, a população usa para doenças broncopulmonares as formas de infuso ou de decocto das folhas. Para contusões e feridas, costumam-se fazer compressas com folhas aquecidas direto no local afetado. Também é utilizado em banho de assento, para o tratamento de infecções ginecológicas e do aparelho digestivo.

Apesar do uso popular, são raras as pesquisas sobre as atividades farmacológicas da espécie. No entanto, pesquisadores confirmaram a ação antidiarreica da planta (1) e outros relataram a presença de antioxidantes (2). Também, foi verificada ação positiva na cicatrização de feridas (3).

Outros usos são: pode inibir o crescimento de plantas que crescem próximas a ela, devido à alelopatia. Em algumas regiões da África, é utilizada inclusive como alimento (4).

Referências

(1) YADAV, A. K.; TANGPU, V. Therapeutic efficacy of Bidens pilosa L. var. radiata and Galinsoga parviflora Cav. in experimentally induced diarrhoea in mice. Recent Progress in Medicinal Plants(Eds. Govil, J. N. & Singh, V. K.). Vol. 23: Standardization of Herbal/Ayurvedic Formulation. ISBN: 1-9336991-4-0. Studium Press, LLC, Houston, USA, pp. 35-45, 2008.

(2) DERWINSKA, M.; BAZYLKO, A.; KOWALSKI, J. Antioxidant activity of Galinsoga parviflora and Galinsoga quadriradiata. Planta Medica 72. p.96, 2006.

(3)SCHMIDT, C., FRONZA, M.,GOETTERT, M.,GELLER, F., LUIK, S., FLORES, E.M.M., BITTENCOURT, C.F., ZANETTI, G.D.,HEINZMANN, B.M., LAUFER, S., MERFORT, I., Biological studies on Brazilian plants used in wound healing. J. Ethnopharmacol., v.122, n.3, p.523-32, 2009. 

(4) ODHAV, B.; BEEKRUM S.; AKULA, U.; BAIJNATH, H. Preliminary assessment of nutritional value of traditional leafy vegetables in KwaZulu-Natal, South Africa. Journal of Food Composition and Analysis, v.20, p. 430-435, 2007.
<strong>Caption:</strong> Wanganui East.<br><strong>Photographer:</strong> Colin Ogle
<strong>Caption:</strong> Stokes Valley. May 2006.<br><strong>Photographer:</strong> Jeremy Rolfe

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