sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Artistas de TV e ativistas cobram coerência em política de sustentabilidade do McDonald’s

Em iniciativa inédita, Thaila Ayala, Ellen Jabour e Eduardo Pires pedem que a rede de fast-food abandone prática já considerada insustentável nos EUA, mas mantida no Brasil

No dia de ontem (17), a modelo e ex-VJ Ellen Jabour, o ator da TV Record Eduardo Pires e a atriz global Thaila Ayala lançaram uma campanha na Change.org, um dos maiores portais de petições do mundo, pedindo que a rede de fast-food McDonald’s se comprometa com a abolição do uso de celas de gestação para porcas reprodutoras, uma prática considerada demasiadamente cruel por especialistas de bem-estar animal e proibida em alguns países. No ano passado, a rede se comprometeu com a mudança nos EUA, mas ainda não estendeu essa política ao Brasil.

“A produção industrial de carne suína no Brasil é extremamente cruel com os animais. Nós ficamos horrorizados ao descobrir que grande parte das porcas reprodutoras passam praticamente suas vidas inteiras presas em celas de gestação, cubículos tão pequenos onde elas mal podem se mover”, declararam os artistas. “Nos Estados Unidos o McDonald’s já se comprometeu a abolir essas celas, admitindo publicamente que elas ‘não são um sistema de produção sustentável’ e cobrando essa mudança dos seus fornecedores. Já passou da hora deles fazerem o mesmo aqui”, completam os famosos.

Segundo a ARCA Brasil, uma das maiores ONGs de proteção animal do país e responsável pela ação com os artistas, a maioria dos produtores de suínos em escala industrial no Brasil usa as celas de gestação, gaiolas de metal que têm praticamente o mesmo tamanho do corpo dos animais. As porcas são submetidas a ciclos repetidos de inseminação e passam praticamente suas vidas inteiras confinadas em tais celas, que as impedem até mesmo de se virar ou dar mais do que um passo para frente ou para trás. “O McDonald’s tem que ser coerente e adotar no Brasil os mesmos padrões éticos e de bem-estar animal que já tem nos EUA. As pesquisas são claras: a grande maioria dos consumidores brasileiros se importa com a questão e não quer que os animais sejam maltratados durante a produção de alimentos”, afirmou Marco Ciampi, presidente da ARCA.

Especialistas da área de bem-estar animal afirmam que dada a severidade e a longa duração do confinamento em celas, os animais sofrem e são mais propensos a vivenciar trauma psicológico e diversos problemas de saúde como infecções urinárias e paralisias nos pés ou pernas. “Os porcos são animais muito inteligentes. Estudos científicos sugerem que eles têm habilidades cognitivas superiores às dos cães e provavelmente similares às de grandes primatas, elefantes e golfinhos. A prática de confinar porcas em celas de gestação de forma contínua é tão controversa que ela já foi proibida em toda a União Europeia, na Nova Zelândia e em nove estados dos EUA”, afirma Ciampi.

O comprometimento com o abandono do uso de celas de gestação é um tema que ganha cada vez mais relevância também no setor corporativo dos EUA. Nos últimos três anos, mais de 60 empresas líderes de mercado no setor varejista e alimentício no país anunciaram políticas de sustentabilidade comprometidas com a eliminação dessa prática em suas cadeias de fornecimento. Algumas dessas empresas são: Burger King, McDonald’s, Subway, Costco e Compass Group (representado pela empresa GRSA no Brasil). Associações de produtores suínos da Austrália e África do Sul também já se comprometeram a restringir o confinamento contínuo de porcas em celas até 2020. O governo do Canadá agora discute uma proibição nacional.

Ao contrário do que muitos acreditam, a mudança para um padrão de produção que contempla o bem-estar dos animais não é difícil e nem muito mais cara. No Brasil, temos o exemplo da fazenda Miunça, localizada nos arredores do Distrito Federal e presente no mercado há mais de 20 anos. A fazenda conta com um plantel de 3800 porcas, sendo que 1300 delas criadas em sistema sem gaiolas.

A petição pode ser acessada no link www.change.org/porcas. Os artistas também gravaram um vídeo onde dizem: “Você não pode deixar de fazer parte deste movimento! Juntos, vamos ajudar a criar um mercado mais comprometido e eliminar as práticas cruéis na produção de alimentos”.

Fatos e referências:
Em fevereiro de 2012, o vice-presidente da cadeia de suprimentos do McDonald’s na América do Norte, Dan Gorsky, fez a seguinte declaração: “O McDonald’s acredita que as celas de gestação não são um sistema de produção sustentável para o futuro. Existem alternativas que acreditamos ser melhores para o bem-estar das porcas. O McDonald’s quer ver o fim do confinamento de porcas em celas de gestação na nossa cadeia de fornecimento”. Nada similar foi anunciado para o Brasil, ou para a América Latina.
No Brasil, o número de porcas reprodutoras — também chamadas de matrizes suínas — é de aproximadamente 2,4 milhões, segundo dados do Levantamento Sistemático da Produção de Suínos (LSPS). Desse total, mais de 1,6 milhão de porcas são criadas em sistemas altamente tecnificados, onde os animais geralmente são confinados em celas de gestação.
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Akatu revelou que 87% dos brasileiros acham importante ou muito importante “que durante a produção animais não tenham sido maltratados”.

EcoDebate, 18/10/2013

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