sexta-feira, 30 de maio de 2014

Agricultora familiar tem agroecologia como estilo de vida e método de trabalho

Foto: Fábio Caffe

A agricultora Francisca Eliane Viana vive em Mossoró, no Rio Grande do Norte. No assentamento Mulunguzinho, porém, não pergunte por Francisca para encontrá-la, mas, sim, por Neneide. Com três filhos, de 20, 23 e 26 anos, Neneide foi mãe pela primeira vez aos 15 anos e, aos 41 anos, tem quatro netos. Trabalhadora do campo, ela tem disposição de sobra para enfrentar os desafios diários, colocar sua força na gestão de uma cooperativa e divulgar, para quem puder, os benefícios das práticas agroecológicas.

Atualmente, Neneide preside a Cooperativa de Comercialização Solidária Cooperxique, formada por 60 famílias, homens e mulheres agricultores familiares, e também coordena a rede Xique-Xique, que reúne 14 núcleos de artesãos e artesãs em 14 municípios do Rio Grande do Norte. A rede une associações e cooperativas para promover a comercialização dos produtos dos cooperados. A cooperativa familiar Cooperxique é um braço da rede que cuida da parte administrativa e comercial.

Neneide e todos os agricultores da cooperativa vendem sua produção individualmente para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): hortaliças, galinha caipira e mel. Já a cooperativa vende produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A comercialização para o programa começou no segundo semestre de 2013, quando foram feitos dois contratos, de peixes e frutas, no valor de R$ 7 mil, e que deve ser o primeiro de muitos, segundo expectativa da presidente Neneide.

“Quando comecei a frequentar grupos de discussão de mulheres agricultoras, conheci um tipo de agricultura diferente. Comecei a me reconhecer e minha mãe passou a resgatar como era o manejo. A gente se encontrou novamente com o campo e as práticas que se fazia antes, trabalhar de uma maneira em que se respeitassem os animais, as pessoas que vivem naquela comunidade”, relata Neneide.

Manejo sustentável

“Começamos a trabalhar o manejo sustentável, com uma perspectiva diferenciada da comunidade”, ela lembra. O trabalho com hortaliças agroecológicas foi iniciado em 1999. “Percebemos o equilíbrio da natureza, aprendemos que não se precisa de químicas para ter o equilíbrio, como a natureza tem o ciclo. O sapo come o grilo, as joaninhas comem o pulgão, a natureza faz com que as coisas permaneçam sem você interferir nela. A gente tem que aprender a conviver com o equilíbrio que a natureza nos oferece”, descreve. As agricultoras do Mulunguzinho passaram, então, a cultivar frutas e 30 variedades de hortaliças. “Isso começou a fortalecer nossa produção e dar condições para nossa segurança alimentar”.

Em 2003, a comunidade pensou em exercer uma atividade diversificada para não depender de muita água, que falta em período de seca na região. Iniciaram a produção de mel: “A abelha fazia a polinização das frutas e fazia o mel para nossa segurança alimentar”, conta Neneide. Em busca de mercado para comercializar as frutas, o mel e as hortaliças, as agricultoras acessaram o PAA e outras políticas públicas. Criaram, também, uma associação, para estimular o consumo urbano do que era produzido.

“Para nós, foi muito importante viver e conviver com agroecologia, porque começamos a nos organizar, a tirar nosso sustento e a fortalecer nossa mesa; ter diversidade de produção e de alimentos para nossa casa. Se um filho nosso sentisse fome, a gente buscava na horta um mamão para ele comer, uma banana pra ele lanchar, verdura para colocar no feijão. E foi assim que a gente começou a perceber o quanto a agroecologia é importante”, relata Francisca Eliane Viana, a Neneide.

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