*Grasielly Rocha Souza – Acadêmica do Curso de Ciências Farmacêuticas
Dizer que uma pessoa tem diabetes é o mesmo que dizer que ela tem uma quantidade de açúcar no sangue acima do que seria normalmente esperado. A doença ocorre quando o pâncreas não produz insulina em quantidade suficiente ou quando o organismo não consegue utilizar com eficiência a insulina produzida. A hiperglicemia é um efeito comum da doença quando não controlada e, com o passar do tempo, causa lesões graves ao organismo, principalmente ao sistema nervoso e sanguíneo.
Diversas plantas medicinais vêm sendo citadas na literatura por auxiliarem no tratamento do diabetes, atuando tanto no tratamento da doença como no alívio dos seus sintomas e possíveis consequências.
Desta forma, vários estudos estão sendo desenvolvidos com o objetivo de comprovar o efeito de espécies vegetais muitas vezes utilizadas apenas com base em dados da medicina popular.
Como o diabetes é uma doença crônica, ou seja, necessita de tratamento contínuo, é um alvo interessante para a busca de novos métodos de tratamento com a possibilidade de uso de várias espécies de plantas medicinais para o tratamento. Recentemente, um capítulo de livro com o título Medicinal Plants and Natural Compounds from the Genus Morus (Moraceae) with Hypoglycemic Activity: A Review foi publicado pela editora internacional InTech.
O capítulo foi escrito por pesquisadores do NEPLAME juntamente com colaboradores da Universidade Federal da Paraíba e Universidade Federal de Sergipe, e faz uma revisão de diversas plantas e constituintes químicos isolados de espécies do gênero Morus com atividade antidiabética e hipoglicemiante. Essas espécies são conhecidas popularmente como “amoreiras” ou “amoras”, e bastante utilizadas para tratamento de diabetes. Na nossa região, a principal representante deste gênero é a Morus nigra L., conhecida pela população como “amora-miúra”, também denominada de “amoreira”, “amora-preta” e “amoreira-negra” em outras regiões do Brasil. Possui origem no Japão e na China, locais onde possui uso tradicional pela medicina popular.
Essa planta é bastante utilizada pela população na região do Vale do São Francisco para o tratamento de diabetes, colesterol, problemas cardiovasculares, obesidade e gota. Além disso, em outras regiões também é utilizada como adstringente suave, anti-inflamatória, antioxidante, anti-séptica, calmante, cicatrizante, depurativa, diurética, emoliente, expectorante, hipotensora, laxante, refrescante, rejuvenescedora e revigorante.
Nosso grupo vem estudando esta espécie há 3 anos com o objetivo de comprovar no laboratório, por meio de experimentos, as atividades reportadas pela medicina popular. Os resultados obtidos ainda são preliminares, mas bastante satisfatórios. A planta tem apresentado atividade antioxidante, antimicrobiana, antinociceptiva e anti-inflamatória. Além disso, estudos realizados anteriormente mostram que o extrato etanólico e o chá das folhas são de baixa toxicidade.
Em relação à atividade hipoglicemiante, os estudos estão sendo conduzidos por pesquisadores da UNIVASF e UFPE, mas ainda estão na fase inicial. Vale ressaltar que são necessários muitos anos de estudo para se chegar a uma resposta concreta em relação ao efeito da planta, pois muitos fatores podem interferir nesse efeito, como por exemplo, a época de coleta, local de coleta, método de extração utilizado, entre outros.
A presença de constituintes fenólicos no extrato da planta está relacionada aos efeitos farmacológicos observados. Dessa forma, vale a pena considerar a importância da realização de estudos farmacológicos que comprovem ou não os efeitos das plantas utilizadas pela população, a fim de que o uso proporcione os benefícios desejados evitando danos à saúde. Enquanto isso, fica a dica: não substitua os medicamentos sintéticos por chás medicinais sem o conhecimento do seu médico. As plantas possuem propriedades terapêuticas, mas só devem ser usadas para tratamento de doenças crônicas, como a diabetes, com o acompanhamento de um profissional de saúde.
Acesse a publicação completa em http://www.intechopen.com/books/glucose-tolerance
Leitura recomendada:
ALMEIDA, J.R.G.S.; GUIMARAES, A.L.; OLIVEIRA, A.P.; ARAUJO, E.C.C.; SILVA, F.S.; NEVES, L.F.; OLIVEIRA, R.A.; SÁ, P.G.S.; QUINTANS-JÚNIOR, L.J. Evaluation of hypoglycemic potential and pre-clinical toxicology of Morus nigra L. (Moraceae). Acta Farmaceutica Bonaerense , v. 30, p. 96-100, 2011.
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