Seu Louro conta sua experiência para o grupo de agricultoras/es visitantes. | Foto: Verônica Pragana/Arquivo Asacom
Campina Grande (PB) – Experiências de manejo agroecológico promovidas por famílias paraibanas das regiões da Borborema, do Cariri e do Curimataú foram apresentadas ontem (30) aos cerca de 300 participantes do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido.
O manejo consiste no plantio consorciado de árvores frutíferas, grãos, tubérculos, plantas medicinais, espécies forrageiras usadas para a alimentação de animais e árvores nativas do Semiárido, como angico, sabiá e camunzé, entre outras. O sistema regenera a fertilidade natural do solo e aumenta a contenção e acumulação de água, elemento fundamental em uma região com períodos de seca prolongados.
Com a prática, os agricultores do Semiárido estão conseguindo aliar sustentabilidade ambiental e geração de renda, possibilitando uma renda adicional às famílias e reduzindo os riscos de entressafras e anos ruins.
Uma das experiências relatadas no encontro é desenvolvida por José Domingos de Barros, 59 anos, o seu Loro. Nascido no município de Massaranduba, no agreste paraibano, ele tem há 30 anos uma propriedade com 3 hectares – cada hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial. No local, durante muito tempo, ele desenvolvia um cultivo tradicional, sem preocupação em manter a biodiversidade e a mata nativa.
Nessa época, ele ocupava seu terreno com plantações de mandioca, milho, fava, batata-doce e feijão, até que uma seca severa fez com que ele tivesse que rever a forma de plantio.
“Desmatei muito, meu pai desmatava, a gente desmatava e não replantava. Com o passar do tempo, foi acabando tudo e eu me perguntava como minha família ia sobreviver”, relatou.
A prática do plantio agroecológico começou há dez anos, após seu Loro participar de uma visita de intercâmbio promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba, com agricultores da região que utilizavam este tipo de plantio. “Eu até dizia que a terra estava com anemia braba. Com o passar do tempo, fiquei pensando o que fazer com a terra, porque ela estava precisando de mim”.
A recuperação do terreno começou com a plantação de espécies adaptadas, como nim e gliricídia, em consórcio com o cultivo de laranja e mandioca. Depois vieram os pés de banana e mamão, além de plantas típicas do Semiárido, como palma e angico. Algumas delas, como a gliricídia e a palma, são usadas para complementar a alimentação dos animais durante a seca. Já o nim é utilizado como um pesticida natural.
Hoje, Loro cultiva espécies frutíferas para produção de caju, manga, tangerina, graviola, além de três espécies de laranja: poncã, bahia e mimo do céu, além dos limões taiti e galego, que são carros-chefes da produção. Como lavoura temporária (culturas de curta duração), ele plantou feijão-bravo, fava e melancia, em consórcio com joão-mole e eucalipto.
O capim cortado, diferentemente de outras plantações, não é retirado, mas deixado no solo, junto com as folhas da vegetação, para proteger da erosão e da perda de nutrientes. Também não há o uso de agrotóxicos. Pragas, como a mosca negra dos citros, considerada a maior ameaça a esse tipo de plantação, é controlada com o uso de técnicas da agricultura tradicional.
Para desenvolver a agroecologia, os pequenos produtores precisam fazer a recomposição ambiental. Para atender a essa finalidade, seu Loro resolveu, com o apoio do sindicato de Massaranduba, criar um viveiro com espécies locais e adaptadas para a região, para oferecer mudas de árvores como maçaranduba, angico, jatobá, pau d’arco, nim e pau-brasil. As espécies são distribuídas gratuitamente. Atualmente, a rede de viveiros de mudas já abrange cinco município da região: Massaranduba, Solânia, Remigio, Alagoa Nova e Esperança.
“Depois que eu comecei a trabalhar dessa forma, vi o quanto obtive de retorno. Antes, os vizinhos achavam que eu era bobo por manter a mata. Hoje, eles já estão entendendo o benefício que isso traz. Cada muda que saí daqui é uma planta a mais para o sertão. Eu sinto que cada pé de árvore que sai daqui é como se fosse uma criança nova no mundo”, filosofa Loro.
Vindo da Chapada Diamantina, região de serras no centro da Bahia, o agricultor Reginaldo de Lima disse que estava contente em poder compartilhar da experiência. “Na minha roça, eu também estou fazendo o mesmo. Se cada um fizesse a sua parte, a gente não teria tanto problema com a água”, alertou.
Outro participante, Francisco de Sousa, prestava assessoria técnica para os produtores familiares do Semiárido, mas resolveu experimentar o “outro lado” e hoje desenvolve, junto com 35 famílias de Viçosa, no Ceará, um trabalho de agroecologia na Serra da Ibiapaba, na divisa com o Piauí.
“Nós trabalhamos com respeito a natureza. Hoje, conseguimos recuperar boa parte da mata nativa. Não cortamos mais as árvores para fazer lenha, plantamos algumas espécies, como o sabiá, para essa finalidade, disse o produtor, também especializado na produção de cítricos.
Edição: Davi Oliveira
Matéria de Luciano Nascimento, da Agência Brasil/EBC, publicada pelo EcoDebate, 31/10/2013
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