quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Resenha do artigo: “Alimentação e Cultura: Em Torno do Natural” de Javier Lifschitz

Resenha de: Camilla Bassanello Chagas
Acadêmica de Nutrição – Universidade de Taubaté

LIFSCHITZ Javier. PHYSIS: Revista Saúde Coletiva – Rio de Janeiro – RJ, 7(2): 69-83, 1997. 

O Artigo trata dos discursos e associações em torno do “natural” como passeios, partos, exercícios e muitos outros ditos que fez com que a sociedade do fim do século passado (assim como as do inicio do XXI, mas que ele não poderia prever em 1997) valorizasse muito mais esse novo padrão de vida. A alimentação é a maior delas, fazendo dos inúmeros produtos de origem industrial, artesanal ou in natura, parte dessa mudança de consumo, tendo no Brasil, um alcance social restrito à população de média e alta renda, devendo ser aprofundado os estudos de alguns padrões alimentares (alimentação natural, fast food, diet, etc.) nos setores mais populares. 

Nesse artigo Lifschitz, se propõe a indagar sobre a implosão do natural e sua multiplicidade de definições e seus sentidos, assim ele começa com o “saber sobre o natural”, que trata do que teria caracterizado algo como natural e considera a alimentação uma das responsáveis por essa reaparição, sendo através dela constituído, novos referentes culturais. 

Desses saberes, ele cita quatro sobre o que é um alimento natural: as tribos alimentares, os profissionais da saúde (médicos, nutricionistas etc.), a indústria alimentar e a mídia. 

O autor começa definindo o que são as tribos alimentares, constituído de vegetarianos, macrobióticos naturalistas e etc., onde considera o natural àqueles alimentos que remetem a própria natureza; nascem da terra e são manipulados manualmente. As tribos não reconhecem como natural o alimento “naturais industriais”, processos fabris com interseção de máquinas, que contenham agrotóxicos etc.. 

Para os profissionais da saúde, Lifschitz define como sendo todo o alimento funcional ao corpo humano e que tenha um conjunto de nutrientes essenciais para alcançar a saúde tendo ela como meta. 

A indústria reconhece como produto natural àquele que não é acrescentado de “aditivos químicos”. Porém, na produção em massa de algum alimento, pode vir a sofrer a interferência de processo químico como os aromatizantes, muito comuns nos “produtos naturais” da indústria utilizados para realçar seu odor e sabor. 

Os mais conhecidos são o aromatizante natural, que é um concentrado de óleos, infusões e extratos vegetais a partir de matérias primas naturais, o aromatizante natural, substâncias químicas como citril, mentol, baunilha e etc., extraídos a partir de produtos naturais e o aromatizante idêntico ao natural, produto quimicamente sintetizado que apresenta estrutura idêntica ao natural. 

Enfim, o autor classifica o natural pela publicidade como sendo um jogo de estratégias para convencer o consumidor de que o produto comercializado pela indústria seja simbolicamente e equivalente ao natural, só que mais prático e mais durável. 

Ao seguir com o texto, Lifschitz aborda "O natural no Imaginário Social", citando seu próprio trabalho anterior onde observa que a necessidade de uma sociedade de criar novos padrões de consumo, faz com que pessoas consumam produtos naturais demonstrando ideia de preocupação com a saúde física e moral, criando vertentes como a orientalização, onde engloba culturas milenares que tem como tradição a preparação artesanal e utilização de produtos frescos, assim como práticas exotéricas e místicas que há alguns anos era considerada como excêntrica e hoje como natural e energético, onde o interior do homem pode ser afetado pelo que se incorpora do exterior; a medicalização que se preocupa com a falta de nutrientes e os excessos de algumas sustâncias ingeridas e seus desequilíbrios, foco da comunidade médica de algumas décadas para cá; a ecologização, que trata do benefício do alimento natural em relação aos industrializados na conservação e preservação do meio ambiente e a feminização, onde o autor faz uma citação da obra de Sahlins (1979), onde ele associa a imagem da carne com o masculino, indicando “força” e “virilidade”, ligadas a ambientes como os açougues e churrascos, enquanto a representação do natural fica com a mulher, destacando símbolos de “leveza” e “estética”. Associação essa um pouco machista, mas levando em consideração a data, temos que concordar que naquela época a saída da mulher dos afazeres domésticos para o mercado de trabalho era um pouco menor em relação há 30 anos depois, nos dias atuais. 

Finalizando o artigo, o autor confere ao natural uma representação cultural cheia de imagens e símbolos e contradições – O Natural como Sistema Paradoxal – contradições presentes na medicalização, orientalização, ecologização e feminização, do místico ao científico, querendo destacar que os elementos descritos no artigo interagem e intensificam as fronteiras culturais, pois as práticas alimentares são amplos assuntos para avanços e pesquisas, devido a sua constante contribuição para as transformações culturais.

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