MARIA VITÓRIA Da equipe do Correio
O agrônomo Ednaldo Carvalho, 62 anos, está preocupado. O estoque de cápsulas que ele toma diariamente desde agosto chegando ao fim. “O remédio controla os meus batimentos cardíacos e evita a ação dos radicais livres. Estou mais disposto”, anima-se o maratonista. Ele consome todos os dias uma cápsula de pequi.
Além de uma iguaria típica de Goiás e Minas Gerais, odiada por uns, amada por outros, o pequi é remédio, como constataram pesquisadores do Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas da UnB. O estudo concluiu que o fruto pode ser indicado como eficiente redutor da ação dos radicais livres — moléculas que se formam no organismo humano e reagem de forma danosa às células sadia. “O óleo extraído da polpa é rico em ômega 9 e tem o mesmo efeito do azeite extravirgem: controla os índices de colesterol no sangue”, explica César Koppe Grisólia, responsável pela pesquisa. No próximo dia 28, a bióloga Ana Luiza Miranda Vilela vai defender uma tese de doutorado com base nos estudos.
A investigação tem aval clínico, com pesquisa em humanos, e o uso do pequi como medicamento foi patenteado pela UnB, que agora procura parceiros para cuidar da comercialização do produto. A parte final da avaliação, com voluntários, teve início em agosto, com a participação de maratonistas do Distrito Federal. Entre eles, estava Ednaldo, líder do grupo de corrida Quero-Quero. “Sou uma prova da eficácia terapêutica do pequi. Com 62 anos, participei, em dezembro, da Maratona de Honolulu, no Havaí”, conta. Os 125 atletas selecionados fizeram coleta de sangue e durante 15 dias consumiram a cápsula. Depois, nova coleta. “Os testes laboratoriais comprovaram a redução de radicais livres e das taxas de colesterol. Está provado: o pequi é rico em antioxidantes, como carotenoides, vitamina C e compostos fenólicos (flavonoides e taninos)”, atesta Grisólia.
Para o professor, o resultado da pesquisa chama a atenção para a necessidade de preservação do cerrado. “A madeira do pequizeiro é usada para fazer carvão e nossa pesquisa mostra que essa planta tem mais valor em pé do que dentro de um saco de carvão”, diz o biólogo. Para Grisólia, assim como o pequizeiro, deve haver muitas outras espécies que ainda não foram devidamente estudadas.
O maratonista e agrônomo Ednaldo já tem certeza do efeito terapêutico do pequi. E pretende continuar usufruindo deste benefício. “Quando as cápsulas acabarem, vou comprar óleo de pequi”, diz, esperançoso de que alguma farmácia de manipulação ou laboratório se interesse em investir nas cápsulas.
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