quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Resenha do artigo: “Cultura e Alimentação ou o que tem a ver os Macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin?” de Maria Eunice Maciel

Resenha de: Camilla Bassanello Chagas
Acadêmica de Nutrição – Universidade de Taubaté

Artigo: “Cultura e Alimentação ou o que tem a ver os Macaquinhos de Koshima com Brillat-Savarin?”.

MACIEL Maria Eunice. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil, Horizontes antropológicos. Porto Alegre, ano 7, n.16, p. 146-156, Dezembro de 2001.

O Artigo tem como tema central a alimentação e como esse assunto é capaz de gerar inúmeras questões a serem indagadas pela antropologia.

É um artigo que apresenta uma revisão de vários outros artigos sobre a Antropologia da alimentação.

A autora, Maria Eunice Maciel, ao escrever o texto, chama a atenção para o óbvio do ato de alimentar-se que é vital a vida humana, mas que o homem atribui práticas que dão significado a esse ato, tornando-o mais íntimo, nutrindo não só o corpo, mas também ao imaginário, cozinhando, adicionando sabores e texturas, onde cita um exemplo da reflexão de Claude Fisher, sobre a alimentação humana. Talvez isso seja a maior distinção do homem para com outros animais em relação a sua alimentação, não se utilizando somente da aquisição e consumo.

Porém alguns animais, também podem desenvolver comportamentos semelhantes ao dos humanos em relação a seus “toques” e preferências alimentares, mesmo que esses atos sejam mais primitivos. Caso em que a autora lembra-se dos Macaquinhos da ilha japonesa de Koshima, onde uma macaca causou intrigante interesse por parte de etólogos e antropólogos ao mostrar a atitude de lavar a batata-doce antes de comê-la, tirando-lhe a lama; Seu gesto levou as outras fêmeas de seu grupo não só a imitá-la, mas a aperfeiçoar a técnica passando a lavar as batatas na água salgada, transmitindo esse exemplo a seus descendentes ao ponto de alterar até a organização social do grupo em questão, pois eles passaram a viver a beira mar.

No decorrer do texto a autora lembra que o homem é um ser onívoro, que come de tudo; desde insetos a alimentos apodrecidos, entrando na questão da sua seletividade alimentar, que são classificados em permitidos e os proibidos.

Se o homem come de tudo, porém ele não come tudo. Em uma cultura, o que é considerado como “comida”, para outra pode não ser; como é o cachorro para os asiáticos, uma iguaria, não é para nós latino-americanos, preferindo os pobres “cãezinhos”, apenas como companhia.

Esse exemplo pode ser aplicado tranquilamente também, para alimentos “exóticos” e “estranhos”, mencionado por MACIEL.

MACIEL cita outros autores que colocam que a escolha que fazemos sobre o que será “comida”, a maneira e quando vamos comê-la, se da pela cultura dos povos e regiões, destacando os sistemas alimentares chamados de “cozinhas”- práticas alimentares que compreendem o conjunto do que se é consumido, dando sentindo ao que o grupo ingere, um marcador de sua identidade, combinando diversos elementos como poder aquisitivo, emoção e território associado a uma região ou até mesmo a uma nação, destacando a mais famosa a “cozinha francesa”. Mas não devemos esquecer, assim como também coloca a autora no texto, que nem todo prato típico de uma região é necessariamente o prato do dia-a-dia de seus comensais, tomando como exemplo nós brasileiros que comemos o arroz e o feijão diariamente, mas o prato que nos identifica e que apresentamos aos que nos “visitam”, é a Feijoada.

Enfim, MACIEL, relaciona a alimentação humana diretamente e indiretamente com a cultura, afirmando ser esse assunto um amplo e frutífero, campo de investigação antropológico.

Ah! E quanto à associação dos “macaquinhos” de Koshima e Brillat- Savarin, ela deixa como provocação ao leitor curioso que até então mal sabia da existência da ilha de Koshima e nem de Savarin. Contudo sendo “eu” uma das leitoras e ainda por cima curiosa, resolvi procurar o porquê da “questão” e achei esse trecho do livro “A fisiologia do gosto”, no qual Brillat-Savarin, praticamente descreveu o comportamento da macaca e o destino de seu grupo, me levando a entender a brilhante associação da autora.

“Os hábitos alimentares de uma nação não decorrem somente de um mero instinto de sobrevivência e da necessidade do homem de se alimentar. São expressão de sua história, geografia, clima, organização social e crenças religiosas [...]. O gosto, que muitos acreditam ser próprio, é uma constelação de extrema complexidade, na qual entram em jogo, além da identidade idiossincrática, fatores como: sexo, idade, nacionalidade, religião, grau de instrução, nível de renda, classe e origens sociais. O gosto é, portanto moldado culturalmente e socialmente controlado”. (SAVARIN, 1995, p.58).

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