quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cartilha mostra importância do quintal para o sustento das famílias do Semiárido

3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido. Foto: AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia
O espaço ao redor da casa tem se tornado cada vez mais um local de auxílio no sustento e na garantia da segurança alimentar para as famílias do Semiárido brasileiro. A importância dos quintais como lugares de produção foi tema de uma publicação lançada ontem (30) no 3º Encontro Nacional de Agricultores e Agricultoras Experimentadoras do Semiárido.

A cartilha História de Quintais – A Importância do Arredor de Casa na Transformação do Semiárido, destaca especialmente o papel desses lugares para a autonomia das mulheres que, além da produção de alimentos, também conseguem gerar renda e aumentar sua presença nas decisões da família.

É o caso da agricultora Maria da Conceição Alves de Mesquista, moradora da comunidade de Cascudo, no município de Trairi no Ceará. A partir da produção de tomate, pimentão, hortaliças, plantas medicinais, árvores frutíferas e criando galinhas e porcos no seu quintal, Maria tem assegurado a alimentação dos seus três filhos.
“Antes eu não tinha nada no quintal, hoje eu tenho um quintal que produz alimentação para a família. Também tenho economizado mais, pois deixei de gastar dinheiro com esses produtos e o que sobra eu vendo na feira”, contou Maria, que mora em uma pequena propriedade de 1 hectare (área equivalente à de um campo de futebol).

Para Nerci Silvino, agricultora do município de Imaculada no médio sertão paraibano, os quintais têm contribuído para dar mais visibilidade ao trabalho feito em casa, além de autonomia financeira. “Meu quintal produtivo começou depois que fui assentada. A área era cheia de pedras e eu não dava muita importância, depois que conheci as experiências de outras agricultoras, eu resolvi mudar. Agora, lá eu planto coentro, alface, repolho, alecrim, arruda, pimenta, abóbora, graviola. Só com a venda de abóbora eu apurei R$ 330 este mês”, disse durante uma oficina do evento, que têm promovido a troca de experiências, como o compartilhamento das sementes crioulas (adaptadas para o plantio na região) e o manejo ecológico do solo .
A experiência com a produção no quintal lançou Nerci em novos desafios. Depois da produção, ela participou de um curso de construção de cisternas para a captação de água da chuva e hoje auxilia na construção delas em várias cidades da Paraíba. “Eu vejo que muitas famílias não desenvolvem nada no quintal porque têm dificuldade de acesso à água. Então resolvi fazer o curso, na época eu era a única mulher, hoje já vejo outras companheiras interessadas nesse conhecimento. Como aprendi, eu mesma construí minha cisterna”, disse com ar de satisfação.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), as mulheres desempenham um papel importante na preservação da biodiversidade por meio da conservação de sementes, da introdução de práticas agroecológicas, sendo responsáveis por 65% a 80% da produção de alimentos no âmbito mundial. Contudo, a FAO considera que elas ainda vivem uma situação de desigualdade social e política, com forte expressão na dimensão econômica.

“A partir do meu quintal eu posso dizer que sou uma agricultora orgulhosa, pois tenho mais autonomia e um papel mais forte na vida da minha família. Hoje eu levo esse meu conhecimento para as agricultoras da minha comunidade. Também quero que elas tenham essa mudança na vida”, arrematou Maria da Conceição.

*O repórter viajou a convite da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA)

Edição: Fábio Massalli

Matéria de Luciano Nascimento, da Agência Brasil/EBC *, publicada pelo EcoDebate, 31/10/2013

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