12/06/2014
Elena Mandarim
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Lucia Appel coordena projeto que desenvolve catalisadores para gerar acetona sustentável
Cada vez mais, a palavra de ordem é "verde". Alinhado às premissas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o conceito de "ser verde" nada mais é do que manter o compromisso de promover o desenvolvimento econômico, reduzindo ao mesmo tempo riscos ambientais e mantendo a biodiversidade local. Busca-se tornar verdes a empresa, os processos produtivos e até a química. O tema, que a cada dia ganha mais força e relevância, é também a base para o trabalho que a engenheira química Lucia Gorenstin Appel vem desenvolvendo juntamente com Clarissa Perdomo Rodrigues, Priscila C. Zonetti, Alexandre B. Gaspar e todos os pesquisadores do Laboratório de Catálise do Instituto Nacional de Tecnologia (INT). Formada e doutorada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lucia conta também com a dedicação de alunos e jovens pesquisadores e com a colaboração de quatro renomadas instituições cariocas: a Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e o Instituto Militar de Engenharia (IME).
À frente de um projeto que busca gerar "acetona verde" a partir do etanol, ela busca desenvolver uma nova tecnologia que engloba duas vantagens: permitir que o Brasil se torne autossuficiente na obtenção de acetona, um produto de extrema importância para a indústria e que hoje é largamente importado; e que essa produção seja feita a partir de uma matéria-prima renovável, já que o etanol é obtido principalmente da cana-de-açúcar. "Esta é uma excelente oportunidade, já que em breve a oferta do etanol deve crescer no País com a entrada em operação das unidades geradoras deste álcool, via celulose", anima-se Lucia, cujo projeto foi contemplado no edital Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica em Química Verde, da FAPERJ.
A pesquisadora explica que atualmente a acetona é obtida a partir do "processo do cumeno" que emprega benzeno e propeno como insumos. Nesse caso, a acetona é gerada juntamente com o fenol, o que nem sempre é positivo do ponto de vista da comercialização. E as matérias-primas empregadas também são de origem fóssil. "Vale destacar que 'ser verde' atualmente agrega valor a produtos químicos e por isso há um crescente interesse das empresas em investir em negócios sustentáveis do ponto de vista econômico, ambiental e social. Nessa perspectiva, a alcoolquímica, ou, no caso, a etanolquímica se mostra como uma proposta promissora", esclarece a pesquisadora.
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Acetona é utilizada em vários processos industriais, como na síntese de fármacos e na produção de tecidos e plásticos
O projeto visa desenvolver catalisadores que possibilitem a obtenção de acetona a partir de etanol. Trocando em miúdos, os catalisadores são substâncias que aceleram reações químicas, promovendo a formação de produtos de interesse em detrimento de outros menos relevantes. "Já conseguimos desenvolver catalisadores com êxito e estamos em processo de patente", comemora a pesquisadora.
Segundo Lucia, o etanol – ou simplesmente álcool, como é comumente conhecido pela população – é uma molécula plataforma porque a partir dela pode-se gerar uma série de produtos e intermediários químicos, usados na indústria em geral. "A acetona e também o 1-butanol, o acetato de etila, o ácido acético, o isobutanol, os butenos, o 1,3 butadieno são outros exemplos de compostos de ampla utilização, gerados via etanol", enumera a pesquisadora.
A acetona também é empregada como solvente e entra largamente na síntese de fármacos e polímeros. Segundo a pesquisadora, a acetona poderia ser ainda utilizada para produzir propeno, e consequentemente polipropileno, produto amplamente empregado na produção de tecidos e plásticos. "Ao criarmos um processo mais simples, estamos também favorecendo a linha de produção de vários outros produtos. É realmente uma vantagem", conclui a pesquisadora.
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