quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Paraná: Mandirituba faz da camomila um negócio milionário

Com 1,3 mil hectares floridos e a cadeia do chá estruturada, o município da região de Curitiba fatura R$ 3,2 milhões por ano. 



Sem agrotóxico, Maria Kupka espera arrecadar até o dobro

Os campos cobertos por flores brancas de corola amarela e cheiro agradável abrigam um dos tesouros da economia de Mandirituba, distante 45 quilômetros de Curitiba. A camomila representa uma das principais fontes locais de renda e emprego. A planta, que confere a cidade o título de capital brasileira da camomila, representa 2% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário municipal – R$ 3,2 milhões dos R$ 161 milhões do PIB agro de 2011.

“A camomila é um patrimônio da cidade. A cultura gera renda no inverno para os produtores e para o município”, aponta o secretário de Agricultura, Marcos Antônio Dalla Costa. Um grupo de 30 produtores cultiva 1,35 mil hectares com a planta – São José dos Pinhais, também na Região Metropolitana, tem 500 hectares. “O número de produtores diminuiu nos últimos anos, mas a produção aumentou, com a modernização”, complementa.

A história da camomila em Mandirituba começou há 30 anos pelas mãos dos imigrantes europeus. A planta encontrou boas condições de clima e solo na região, favorecendo a produção em escala e venda direta para indústrias de medicamentos, cosméticos e alimentos de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e também do Paraná.

Foi nesta época que Arildo Oliveira Franco, 58 anos, decidiu abandonar a fabricação de móveis para se dedicar ao plantio da camomila em 1,2 hectare. Hoje ele cultiva 72,6 hectares com a flor. O início da atividade, há 28 anos, foi cheio de desafios, principalmente na colheita e preparo da planta. A falta de maquinário adequado exigia que todo o trabalho fosse manual.

“No início usávamos uma espécie de garfo para arrancar a flor. Depois, começamos a usar tração animal”, explica. “Para secar, eu colocava uma lona no sol e espalhava as plantas. Demorava uns três dias.”

Atualmente, a colheita é feita com trator e o beneficiamento leva dois meses (veja ao lado). Uma tonelada de camomila verde se transforma em 200 quilos do produto seco, pronto para comercialização.

Mandirituba tem vários centros de beneficiamento da planta. Um deles é a Mandiervas, indústria criada por Franco há 25 anos. A empresa reúne a produção de seis fazendas de camomila, num total de 400 toneladas da planta verde por safra.

O custo de produção da camomila é relativamente baixo – cerca de R$ 830 por hectare, considerando a compra de semente (16 quilos por hectare) e insumo e a contratação de mão de obra. E, o rendimento pode chegar a R$ 2 mil por hectare.

Nova geração expandiu negócio

Além de fonte de renda, a camomila é tradição. Diante da história de vida do pai Arildo, que se mistura à da chegada da planta a Mandirituba, Luis Adriano resolveu se dedicar à cultura. Anexa aos galpões de beneficiamento, ele instalou uma linha de produção de sachês. Hoje, a empresa conta com 12 funcionários e capacidade para produzir 30 mil caixas de 20 sachês e 30 mil pacotes in natura mensalmente.

“O carro chefe é a camomila. No restante do ano, trabalho com outras ervas como boldo, capim-cidreira e erva-doce”, explica. No total, são 55 produtos. “Vendo para supermercados e farmácias do Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. É um orgulho saber que a camomila de Mandirituba roda o país”, afirma o proprietário da Mandiervas.

Nem sempre foi assim. Há 20 anos a produção era manual. A comercialização ocorria nos mercadinhos da região. “Como eu não tinha carro naquela época, pedia a um amigo para me levar nos lugares”, recorda. Seus planos agora incluem uma empacotadora de R$ 200 mil.

Investimento

Cultivo orgânico promete elevar renda do produtor

Alguns produtores de Mandirituba têm a expectativa de dobrar os ganhos com a comercialização da camomila. Há três anos, um grupo está trabalhando com o plantio da camomila orgânica, o que exige o uso de adubação verde. O primeiro resultado será conquistado agora com a emissão do certificado de produção livre de agrotóxicos ainda nesta safra.

“Essa proposta surgiu porque o chá é para dar saúde. Por enquanto, estamos vendendo pelo preço normal. Mas queremos receber mais”, explica Maria Kupka, que há três safras dedica 5 hectares à cultura orgânica – 36 hectares da sua propriedade ainda são preenchidos com o plantio tradicional. O chá é tradicionalmente usado como calmante, antialérgico e cicatrizante.

O plantio de forma orgânica exige algumas mudanças de comportamento do agricultor. O primeiro é a troca de cultura na safra de verão. Áreas que antes eram cobertas com feijão ou milho, que exigem agrotóxicos, têm que receber outro plantio. “Nós vamos ocupar a terra com girassol”, afirma Maria.

Outras diferenças são a produtividade e o trabalho de manutenção da terra. Enquanto o plantio tradicional rende 167 quilos do produto seco por hectare, a orgânica fica pela metade. O mato muitas vezes precisa ser arrancado manualmente. O grupo deve construir, dentro de um ano, uma agroindústria que irá transformar a safra orgânica em chás, massas, geléias, compotas, conservas e temperos.

Data: 18.09.2012
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