Alimentar-se bem custa caro? Segundo a professora do Departamento de Nutrição da Universidade de Brasília Kênia Mara Baiocchi, pequenas mudanças nos hábitos diários podem garantir melhor qualidade de vida e comida saudável pode não representar reais a menos no bolso. Para ela, as escolhas na hora de fazer compras no supermercado ou de montar um prato em um restaurante self-service podem fazer grandes diferenças para a saúde.
“A gente precisa quebrar alguns paradigmas. Alimentação saudável pode ser cara e pode não ser, depende das escolhas. É claro que um kiwi, um pêssego, uma ameixa, uma cereja, uma lichia são alimentos saudáveis e muito caros. Mas a banana, a laranja, o abacaxi, a melancia não são caros”, explica. “Só não pode comprar e deixar apodrecer em casa, tem que consumir. Tem que ter o hábito e a educação de procurar esses alimentos”.
Kênia diz que a vida moderna trouxe o estresse, a falta de tempo e o sedentarismo, mas é possível ser saudável nesse ambiente que ela chama de obesogênico. Uma pesquisa divulgada na última semana pelo Ministério da Saúde mostra que 51% da população acima de 18 anos estão acima do peso ideal. O levantamento mostra que 22,7% da população consomem a quantidade recomendada de frutas e verduras – cinco ou mais porções por dia em pelo menos cinco dias na semana.
“A alimentação fora de casa é uma realidade, cada vez mais a gente tem que recorrer ao almoço fora de casa. Muita gente recorre ao self-service. Aí está o trabalho de educação ou reeducação, quando é o caso”, diz Kênia. Nesses restaurantes está disponível uma alimentação saudável, avalia, “mas as pessoas colocam tudo no prato, sem buscar nenhuma harmonia. É peixe com feijoada e sushi no mesmo prato”.
Segundo ela, nenhum desses alimentos está proibido, mas é preciso balancear. “Eu posso ter o dia da feijoada, mas nesse dia eu não como peixe, como apenas a feijoada e é um dia na semana”.
Uma alimentação saudável, para o Ministério da Saúde, é, em termos gerais, saborosa, variada, colorida, acessível do ponto de vista físico e financeiro, equilibrada em quantidade e qualidade e segura sanitariamente. Mas essa alimentação ainda tem que ser adotada por parte dos brasileiros.
Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, apesar de haver uma ingestão satisfatória de proteínas, o consumo excessivo de açúcares foi observada em 61% da população, o de gorduras saturadas, em 82%. O consumo insuficiente de fibras foi observado em 68% dos brasileiros. Quanto ao sal, o consumo diário no país é 12 gramas, enquanto o recomendado pela Organização Mundial da Saúde é 5 gramas.
Além do excesso de peso, outros problemas são associados aos maus hábitos alimentares, como pressão alta, colesterol alto e diabetes.
Foram esses problemas que fizeram a dona de casa Maria Selva mudar os hábitos alimentares. Ela tem pressão alta e diabetes. “Como arroz, feijão, carne. Verdura e salada, só de vez em quando porque não gosto. Mas como bastante fruta”. A dona de casa Vilani Oliveira também mudou os hábitos depois dos 50 anos, por recomendação médica, pois tinha o colesterol alto. Hoje, com 65 anos, faz caminhada e academia quase todos os dias. Junto com o exercício, veio a mudança na alimentação. “Comecei a me exercitar e passei a comer alimentos com pouca gordura, pouca carne vermelha”.
Edição: Graça Adjuto
Reportagem de Mariana Tokarnia, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 02/09/2013
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