Danielle C. Santos, Irinéia P. Baretta
RESUMO: A depressão é um mal que afeta milhões de pessoas, causando sofrimento humano, comprometimento econômico e social. A fisiopatogenia da depressão está envolvida com muitos fatores, entre os mais comuns estão o estresse, alterações de humor, alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas, portanto para o tratamento da depressão devem ser considerados os aspectos biológicos, psicológicos e sociais de cada paciente. Com o avanço da medicina, o tratamento da depressão apresenta opções que permite ao clínico uma prescrição individualizada objetivando um melhor resultado terapêutico. As terapias alternativas, associadas às clássicas, têm demonstrado resultados promissores em pacientes deprimidos. A aromaterapia tem sido amplamente utilizada principalmente por não apresentar efeitos colaterais e por despertar a sensibilidade olfativa e favorecer a utilização das riquezas naturais. Assim a prática da aromaterapia é ideal como auto-ajuda, desde que o paciente consiga associar seu uso ao efeito prazeroso, promovendo a saúde, o bem estar da mente, do corpo e das emoções. Este trabalho tem como objetivo buscar na literatura as fundamentações para o uso desta terapia alternativa como coadjuvante no tratamento da depressão, uma alteração do sistema nervoso central que ainda requer muitos estudos neuroquímico e comportamental, pois em muitos casos a farmacoterapia clássica não tem demonstrado eficácia.
Unitermos: Aromaterapia, depressão, óleo essencial, antidepressivos.
ABSTRACT: “Aromatherapy for the treatment of depression”. The major depressive disorder is a medical condition that affects millions of people causing suffering as well as social and economic trouble. The depression physiopathogeny is related to many factors and stress, changes of humor, cognitive changes, psychomotor and vegetative are among the most usual ones. For treatment social, psychological and biological aspects of each patient should be considered. With medicine advancements the treatment of depression has allowed the medical doctor a more individualized prescription aiming at a better therapeutic result. Alternative therapies associated to the more classical ones have shown satisfactory results too. Aromatherapy has been largely employed mainly due to not presenting collateral effects and to raise olfative sensibility and to favor the use of natural resources. Hence, the aromatherapy practice to be ideal as self-help since the patient can associate its use to the pleasant effect, promoting health and mind, body and emotions welfare. This work is made up of a bibliographical search aiming at finding in the literature the fundaments for the use of alternative therapies as a support for the treatment of depression, a central nervous system alteration that requires more neurochemical and behavioral studies, considering that the classical pharmacotherapy has not produced satisfactory results in many cases.
Keywords: Aromatherapy, depression, essential oil, antidepressives.
1. Introdução
A Depressão é uma doença clássica na psiquiatria, considerada a doença do século XXI. Sua incidência tem sido alta em todas as sociedades modernas e camadas sociais. As pessoas idosas e os adultos estão mais expostos a ela, mas infelizmente, é cada vez maior o número de crianças, principalmente aquelas que sofrem maus tratos, experiências de abandono e que vivem em lares onde imperam a crise do diálogo e a agressividade. Esta é uma doença do sistema nervoso central que promove alterações psíquicas e físicas, alterando a maneira como a pessoa vê o mundo, sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções e sente prazer com a vida, assim, afetando a maneira de se alimentar, de dormir e principalmente como a pessoa se sente em relação a si próprio e ao mundo. Portanto, as flutuações do humor e as diversas mudanças no comportamento como sintomas de descontentamento, confusão e solidão podem indicar depressão (Silva et al., 2002).
A depressão é entendida como uma alteração cerebral neuroquímica e funcional. O indivíduo deprimido tem consciência das coisas boas em sua vida e tem noção inclusive, que seu estado físico e emocional poderia estar pior. Ele pode, inclusive, ter consciência de que o motivo para sua depressão não seja tão importante, mas mesmo sabendo disso e desejando não estar dessa forma, continua deprimido. Os sintomas se alteram entre sensação de tristeza e pensamentos negativos, chegando até em alterações da sensação corporal como dores e enjôos. Os sintomas fisiológicos mais comuns são sensações de desconforto no batimento cardíaco, constipação, dores de cabeça e dificuldades de digestão. Períodos de melhoras e pioras são comuns, existe uma falsa impressão de que se está melhorando sozinho, quando durante alguns dias o paciente sente-se bem (Soares, 1999).
Segundo Cury (2005), os adolescentes estão cada vez mais vulneráveis a depressão. A crise do diálogo, a busca do prazer imediato, a incapacidade de trabalhar e o julgo da paranóia da estética, tem gerado a necessidade compulsiva de se ter um corpo segundo o modelo estereotipado difundido pela mídia, ocasionando nos adolescentes a depressão e outros transtornos psíquicos tais como a bulimia e a anorexia nervosa.
A depressão pode ser considerada como o último estágio da dor humana. Ela é mais intensa do que a dor da fome, pois uma pessoa faminta tem apetite preservado, enquanto algumas pessoas deprimidas podem, mesmo diante de uma mesa farta não ter apetite nem o desejo de viver. Frequentemente, só compreende a dimensão da dor da depressão quem já passou por ela (Cury, 2005).
Os agentes antidepressivos são aqueles usados para restaurar pacientes mentalmente deprimidos a um estado mental melhorado. São úteis, até certo ponto, em depressões e sintomas depressivos e no tratamento de fases depressivas de determinados tipos de esquizofrenia. Diminuindo, assim a intensidade dos sintomas, reduzindo a tendência ao suicídio e acelerando a velocidade de normalização. Os fármacos utilizados no tratamento da depressão provocam um aumento da concentração de noradrenalina e ou serotonina ao nível dos receptores centrais (Andreatini et al., 2001).
A busca por tratamentos e cura da depressão tem sido a causa de pesquisas no mundo inteiro e cada vez mais se tem a convicção de que o tratamento será eficaz quando houver equilíbrio entre o físico, o neuroquímico e o emocional (Porto, 1999).
Diante do exposto, o trabalho tem como objetivo buscar na literatura as fundamentações para o uso desta terapia alternativa como coadjuvante no tratamento da depressão, uma alteração do sistema nervoso central que ainda requer muitos estudos neuroquímico e comportamental, pois em muitos casos a farmacoterapia clássica não tem demonstrado eficácia.
2. Desenvolvimento
2.1.Tratamento da Depressão com Aromaterapia
A depressão pode ser classificada em três tipos: depressão unipolar, distimia e transtorno bipolar. A depressão unipolar caracteriza-se pela combinação de alterações comportamentais e emocionais que incapacitam o indivíduo depressivo a realizar atividades profissionais, acadêmicas e lúdicas, além de causar transtornos alimentares e perda de sono. A distimia é considerada um tipo de depressão, em que não se observa a incapacitação, mas que estão presentes alterações indesejáveis no humor e demais alterações comportamentais de forma crônica. Já a depressão bipolar, tem uma prevalência menor que as anteriores e caracteriza-se por uma oscilação extrema do humor que vai da mania à depressão. Existem diversos graus de depressão. Há depressão leve, moderada e grave, depressão com ou sem sintomas psicossomáticos (dores musculares, taquicardia, cefaléia, nó na garganta e outros), depressão com ou sem sintomas psicóticos (desorganização do pensamento, delírios e alucinações), depressão recorrente caracterizada por freqüente recaída e a depressão com apenas um episódio, ou seja, a que é tratada de maneira adequada não voltando ao cenário emocional (Ward et al., 1999).
A causa exata da depressão permanece desconhecida, a explicação mais aceita é o desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado do humor, causada por um desequilíbrio de substâncias cerebrais denominadas neurotransmissores. Quando o funcionamento normal destas substâncias químicas é alterado, pode ocorrer a depressão (Jefferson; Greist, 2002). O fato de ser desequilíbrio bioquímico não exclui tratamentos não farmacológicos.
Os distúrbios vasomotores se traduzem em mãos frias, algumas vezes pálidas e cianóticas, palidez dos lábios e hipotermia. São freqüentes os espasmos ou dilatações vasculares, com conseqüente oscilação da pressão arterial. Os pacientes deprimidos dão-nos a impressão de mais velhos. As perturbações digestivas também são constantes, há alterações do apetite, tanto com inapetência quanto com hiperfagia e constipação intestinal. Os distúrbios circulatórios ocasionam um sentimento subjetivo de opressão na região cardíaca, causando a chamada angústia precordial (Caló, 2005).
O quadro clínico do estado afetivo depressivo é caracterizado pela inibição geral da pessoa, pela baixa performance global refletida pela lentidão e pobreza dos movimentos, pela mímica apagada, pela linguagem lenta, monótona e pelas dificuldades pragmáticas. Em crianças e adolescentes, por exemplo, o humor pode ser irritável ao invés de triste. O adulto deprimido também pode experimentar sintomas adicionais durante a depressão, estes incluem alterações no apetite ou peso, alterações do sono e da atividade psicomotora, diminuição da energia, sentimentos de desvalia ou culpa, dificuldades para pensar e se concentrar ou tomar decisões, e pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio (Graeff; Guimarães, 1999).
O estresse é um dos fatores que mais alteram a qualidade de vida das pessoas. Ele se caracteriza pelo estado de tensão e alerta permanente que nos submetemos, comprometendo a nossa saúde física, emocional e mental. Como se estivéssemos diante do perigo iminente, nosso corpo se enrijece todo, a pressão sobe, a respiração fica acelerada, uma grande carga de adrenalina entra imediatamente na nossa corrente sangüínea e ficamos prontos para enfrentar um grande monstro que muitas vezes só existe em nossa fantasia. É a preparação do organismo para lutar ou fugir. É uma fiscalização constante que não nos permite nunca entrar em estado de relaxamento e repouso (Jefferson; Greist, 2002).
A medicina tem avançado muito no aspecto de terapias alternativas para alguns tipos de doenças, sendo cada vez mais comum a parceria entre diferentes áreas do conhecimento com o objetivo de solucionar problemas. Segundo Spethmann (2004), o homem vive cercado de remédios naturais e não sabe. A natureza é riquíssima em recursos medicinais proporcionando ao homem a oportunidade de cura. A medicina alternativa cada dia mais vai explorando as qualidades curativas da flora, pois suas ricas propriedades são inesgotáveis, mas sempre devemos lembrar que para combater o mal é necessário estarmos com a terapia correta, especialmente em casos mais sérios e graves, por isso, o diagnóstico médico é indispensável.
Pesquisas recentes realizadas, na área de neuroanatomia, por Maluf (2005), mostram que os aromas oferecem um acesso direto a região emocional do cérebro e da memória, buscando imagens visuais, que por sua vez vem sempre acompanhada de padrões somáticos, um conjunto de sentimentos e tensões corporais com significado cognitivo ou experimental. Os cheiros, principalmente aqueles mais freqüentes são armazenados na memória como impressões aromáticas holísticas.
Pesquisas na terapia alternativa da aromaterapia mostram que todos nós reagimos consciente ou inconscientemente aos estímulos de sons, cores e cheiros. Certos cheiros causam reações emocionais e ou físicas, outros estimulam os centros sexuais, e outros ainda aliviam os nervos e alguns ativam os centros psíquicos (Price, 1999).
A aromaterapia é a arte e a ciência de usar as propriedades terapêuticas dos óleos essenciais para promover a saúde e o bem estar do corpo, da alma e das emoções. O termo aromaterapia foi criado pelo químico francês René Maurice Gattefossé, nos anos vinte para descrever a prática de usar óleos de essências de plantas, flores, raízes e sementes (Grace, 1999).
Segundo Price (2002), a aromaterapia é a utilização controlada e consciente dos óleos essenciais das plantas, com o objetivo de prover saúde e bem estar à totalidade do indivíduo, isto é, ao conjunto formado por corpo, mente e espírito.
A prática da aromaterapia é ideal como auto-ajuda, desde que o seu uso seja efetivo e prazeroso, como banhos, massagens e inalações, assim, ajudando a fortalecer o sistema imunológico e a melhorar a saúde e o bem-estar geral. Gotas de óleos essenciais, obtidos de vegetais, em sua maioria, e sempre diluídas, podem energizar ou acalmar. Você cheira e em menos de um segundo, alguma coisa acontece no seu coração, é que os aromas dos óleos essenciais influenciam o centro de suas emoções no cérebro, captados pelo olfato, acionam ondas geradoras de calma ou energia (Lavabre, 2001).
As ervas aromáticas têm sido utilizadas desde a antiguidade para purificar e curar tanto o corpo quanto a mente. Pesquisas mostram que os egípcios aparecem na história como a civilização mais dedicada à ciência e à arte da aromaterapia, utilizando perfumes e óleos essenciais tanto na medicina como nos rituais religiosos. É impossível apontar a data em que as plantas foram usadas para fins médicos pela primeira vez (Price, 2002).
A aromaterapia só foi reconhecida como tratamento em 1960, e nos faz despertar para a necessidade de desenvolvermos nossa sensibilidade olfativa, assim, tirando um proveito maior das riquezas do mundo natural. As plantas emanam poderosas substâncias curativas, como óleos essenciais que podem ajudar quando nosso equilíbrio físico ou mental encontra-se abalado. Essas substâncias voláteis encontram-se escondidas em minúsculas glândulas no interior das plantas, estas substâncias contêm várias propriedades benéficas e são usadas na aromaterapia para aumentar a vitalidade e melhorar a saúde.
A sociedade está se modernizando cada vez mais, assim, estando pronta para novos caminhos na área da terapia alternativa. A civilização moderna está se tornando cada vez mais cansada, a experiência aromática pode criar maior equilíbrio e ajudar a aliviar o estresse. O prazer que isso oferece parece ser um caminho mais fácil para a abertura da mente e então se torna possível vivenciar curas significativas (Grace, 1999).
A prática da aromaterapia está naturalmente dividida em três campos, o uso medicinal, o uso cosmético e o uso aplicado na psicologia e psicoterapia.
Na área médica, a aromaterapia envolve um estudo profundo de como as propriedades terapêuticas dos óleos essenciais podem ser aplicadas para atingir os órgãos e tecidos internos do organismo, promovendo a cura. Os óleos devem ser prescritos por especialistas, pois alguns são tóxicos e devem ser utilizados somente com prescrição, assim utilizados em massagens relaxantes, banhos, compressas, inalação e ingestão.
Na cosmética, a aromaterapia está centralizada nas mãos de esteticistas e massagistas que utilizam os óleos essenciais em tratamentos de pele, cabelo e terapias de relaxamento. Já na psicoterapia e psicologia, o uso dos óleos essenciais envolve o estudo da relação entre memória, emoção e cheiro, assim, podem ser utilizados para modificar a condição mental e emocional do indivíduo.
Dentre os nossos sentidos, o olfato é o mais evocativo, pois nos fornece informações a respeito daquilo que não somos capazes de ver ou ouvir. Os aromas são capazes de interferir na saúde, vários autores afirmam que os aromas exercem efeitos positivos sobre determinadas doenças. A utilização dos aromas não faz parte da prática da medicina, porém, os aromas poderiam ser muito úteis, pois muitos dos aromas são revigorantes e inspiradores (Price, 2002).
O aroma é capaz de despertar uma emoção interior quando o inalamos, porém para saber se a emoção que iremos sentir é agradável ou desagradável, depende de alguns fatores. Um cheiro pode ser agradável para certa pessoa e desagradável para outra, um exemplo é o cheiro de rosas, que para algumas pessoas trazem lembranças desagradáveis como a de um funeral. Desta maneira, podemos observar que as emoções evocadas pelos aromas são bastante individuais, portanto, é difícil estipular quais serão os efeitos que um determinado aroma poderá produzir em diferentes indivíduos. Cada percepção é afetada pela mescla de suas experiências passadas com as emoções, junto a sua reação específica ao aroma (Maluf, 2005).
Segundo Price (2002), a maior parte dos efeitos curativos dos óleos essenciais ocorre, sobretudo através da própria inalação, por via da mente e de alguns caminhos emocionais. No início dos anos 20, os cientistas Gatti e Cayola observaram os efeitos terapêuticos dos óleos essenciais e concluíram que tanto a ação sedativa como a estimulante eram obtidas mais facilmente pela inalação do que pela ingestão, conforme mecanismo demonstrado na Figura 1.
Figura 1 - Caminhos percorridos pelos vapores. Segundo Price (2002), modificado por Santos (2005)
Os óleos essenciais desencadeiam um efeito físico imediato sobre os pulmões, assim como são capazes de passar diretamente deste lugar para a corrente sanguínea, que os transporta para o corpo todo. Uma vez no sangue, esses óleos podem gerar efeitos sobre qualquer órgão pelo qual passem e promover uma ação revitalizante. Ao inalarmos os óleos essenciais, suas moléculas perfumadas também são levadas pelo ar diretamente para o alto do nariz, onde está situado o epitélio olfativo, assim, captando as moléculas aromáticas e levando direto para o cérebro (Prince, 2002).
A International Standard Organization (ISO) define óleos voláteis como os produtos obtidos de partes de plantas através de destilação por arraste com vapor d’água, bem como os produtos obtidos por expressão de pericarpos de frutos cítricos. Estas são misturas de substâncias lipofílicas, voláteis e geralmente odoríferas e líquidas, chamadas de óleos essenciais, óleos etéreos ou essências. As denominações variam de acordo com suas características físico-químicas, como por exemplo, se forem líquidas, neste caso, de aparência oleosa à temperatura ambiente recebem a designação de óleo. Sua característica principal é a volatilidade, diferenciando-se assim dos óleos fixos que são misturas lipídicas obtidas a partir de sementes. Outra característica muito importante é o aroma agradável e intenso da maioria dos óleos voláteis, assim, recebendo a denominação de essências. São solúveis em solventes orgânicos apolares, como éter, recebendo, por isso o nome de óleos etéreos ou, em latim, aetheroleum. Na água, os óleos voláteis apresentam solubilidade limitada, porém, suficiente para aromatizar as soluções aquosas, chamadas de hidrolatos. Na maioria dos óleos essenciais, o sabor é geralmente acre (ácido) e picante, quando recentemente extraídos são incolores ou ligeiramente amarelados, são raros os óleos que apresentam coloração, como o óleo volátil de camomila, que possui uma coloração azulada, pelo seu alto teor em azulenos. Os óleos voláteis têm uma estabilidade muito restrita, principalmente na presença de ar, luz, calor, umidade e metais (Simões et al., 2001).
Os óleos voláteis podem estar estocados em certos órgãos, tais como flores, folhas e ainda nas cascas dos caules, raízes, rizomas, frutos ou sementes. Todos os órgãos de uma planta podem acumular óleos voláteis, porém, sua composição pode variar segundo a sua localização. Os óleos voláteis obtidos de diferentes órgãos de uma mesma planta podem apresentar composição química, caracteres físico-químicos e odores bem distintos. Lembramos também que a composição química de um óleo volátil, extraído do mesmo órgão de uma mesma espécie vegetal, pode variar significativamente de acordo com a época da coleta, como condições climáticas e do solo (Simões et al., 2001).
Um óleo essencial pode conter de 10 a 200 componentes e outros microelementos difíceis de serem analisados, assim, não existindo recriação sintética que consiga reproduzir com perfeição um produto natural, sendo necessário à utilização de óleos essenciais extraídos diretamente da natureza. Todo óleo essencial tem composição relativamente complexa, porém alguns são bem simples, como o sândalo. Segundo Simões (2001), além dos óleos voláteis obtidos de plantas, há no mercado produtos sintéticos. Esses óleos sintéticos podem ser imitações dos naturais ou composições de fantasia. Para a utilização farmacêutica, somente os naturais são permitidos pelas farmacopéias, porém, há exceções, aqueles óleos que contêm somente uma substância, como o óleo volátil de baunilha (que contêm vanilina), nestes casos, algumas farmacopéias permitem também os equivalentes sintéticos.
Os óleos essenciais, obtidos a partir de plantas, salvo raras exceções, devem ser usados sempre diluídos, pois são extremamente fortes, e utilizados com muita prudência por doentes graves, pessoas com pele muito sensível e mulheres grávidas. Entretanto, as contra-indicações são raras e seu uso é bastante agradável. Sendo substâncias naturais e botânicas, os óleos essenciais podem ser tóxicos, assim, levando risco a saúde do paciente se utilizado de maneira incorreta. Os óleos essenciais são 70 vezes mais concentrados do que a planta de onde foram extraídos. A ingestão de óleos essenciais só deve ser feita sob indicação precisa de dosagem. Os óleos estimulam os sentidos e quando utilizados de maneira regular podem aumentar significativamente a nossa percepção e apreciação da vida (Simões et al., 2001).
Incorporar os óleos essenciais na rotina diária na forma de produtos de aromaterapia de cuidados, não é somente um prazer, mas também um meio de restaurar e manter a vitalidade e a saúde, assim, fortalecendo o mecanismo de defesa do corpo, do sistema imunológico e de manter afastadas as infecções. Acredita-se que os óleos trabalham de tal modo que mantêm a vitalidade e o equilíbrio em todos os órgãos e sistemas do corpo ativamente envolvidos no combate de organismos invasores e na eliminação de toxinas. Em nível emocional, os óleos ajudam a trazer a tona sentimentos reprimidos de raiva, ciúme, medo ou ressentimento, os quais podem eventualmente expressar-se como depressão (Rose, 1995).
Para que os óleos exerçam seus poderes de equilíbrio e revitalização de maneira completa, o corpo e a mente necessitarão estar em um estado receptivo adequado. Ingestão prolongada de comidas refinadas ou industrializadas, tabaco e outros poluentes podem produzir toxinas que se acumulam no organismo, alto nível de estresse e conseqüente tensão muscular impedem o fluxo eficiente de sangue e linfa, assim, levando a um quadro de doença. Encontrando uma sobrecarga tóxica e má circulação, os óleos essenciais concentram suas energias em aliviar os sintomas, induzindo o relaxamento e a volta para um estado emocional equilibrado.
O poder curativo dos óleos é a principal atração da aromaterapia, há evidências de todas as afirmações feitas pelos aromaterapeuta quanto às propriedades curativas dos óleos.
Várias pesquisas foram realizadas na Europa, Japão, Estados Unidos e na Rússia sobre a associação entre o cheiro, a memória e a emoção. O sentido do cheiro é processado no cérebro, abaixo do hipotálamo, no córtex. Essa é a mesma área do cérebro que processa a memória e as emoções e também a parte mais primitiva dele, presente no desenvolvimento da baixa evolução, o rinencéfalo (Grace, 1999).
De acordo com as pesquisas realizadas por Price (2002), poucos óleos essenciais agem como estimulantes mentais. Esses são extremamente valiosos nos casos de perda de memória, em ocasiões em que se presta algum exame, nas mais diversas formas de sofrimento e medo. Os óleos essenciais estimulantes da mente são fundamentais também para beneficiar emoções secundárias, como a apatia, a timidez e a confusão mental. Entre eles podemos encontrar os óleos essências de: cravo-da-índia (Syzygium aromaticum), hortelã-pimenta (Mentha piperita) e alecrim (Rosmarinus officinalis).
Os óleos essenciais com as propriedades de promoverem o relaxamento e a sedação auxiliam muito no tratamento de casos de ansiedade, estresse e depressão. Quando o paciente está em um nível elevado de estresse e depressão, a melhor escolha, é optar por um óleo que tenha sua ação de sedação (Price, 2002). Dentre os mais usados encontramos os óleos de: bergamota (Citrus bergamia), camomila romana (Anthemis nobilis), gerânio (Pelargonium graveolens), lavanda (Lavandula angustifolia), limão (Citrus limon), melissa (Melissa officinalis), sândalo (Santalum album).
Diversos indivíduos sofrem com a agonia de não desejarem prosseguir com suas próprias vidas. Entretanto, ataques severos de depressão, que podem vir acompanhados de apatia, padrões irregulares de sono, perda de apetite e fadiga generalizada, podem ter efeitos sérios sobre a saúde (Ballone, 2005). O tratamento de aromaterapia pode ser altamente terapêutico, mas desde que o paciente esteja com a mente receptiva e aceite o tratamento.
Com a utilização intensificada e prolongada dos óleos essenciais, o paciente irá apreciar emoções positivas como a de felicidade e alegria. As emoções destrutivas, estas nunca são estimuladas pelos óleos essenciais, pois os óleos fazem oposição, de maneira a desencorajá-las, diminuindo-as e até mesmo anulando-as completamente. Os óleos essenciais podem representar um papel importante na liberação e no alívio das emoções destrutivas, do mesmo modo que os pensamentos positivos auxiliam a prevenir a recorrência delas (Price, 2002).
Qualquer aroma é capaz de interferir em nossas emoções e até alterar sentimentos. A fragrância é capaz de induzir a mudança de humor, trazendo uma sensação de bem estar e reduzindo o estresse. O tratamento também consiste em o paciente ter hábitos saudáveis, evitar ficar sozinho por longos períodos, entre outros.
A terapia com a aromaterapia poderá ser realizada através de banhos relaxantes e revigorantes, massagens e inalação com os óleos essenciais adequados, conforme demonstrado na Figura 2.
Figura 2 - Alguns óleos essenciais para o tratamento da depressão. (Santos, 2005)
Segundo Lavabre (2001), as fragrâncias falam uma linguagem própria. Elas conseguem expressar melhor do que qualquer palavra os sentimentos mais sutis. A escolha que uma pessoa faz por um determinado perfume e a maneira como ele reage em sua pele revelam muitas coisas sobre ela, pois todos têm seu cheiro característico, que muda conforme o estado físico e mental do indivíduo. Os aromas mesmo que não consigam mudar a pessoa, podem ajudar a criar premissas favoráveis quando adequadamente escolhidos.
3. Considerações Finais
A aplicação do senso prático holístico é capaz de aliviar as dificuldades emocionais por meio da escolha cuidadosa na utilização dos óleos essenciais. Quando as emoções são aceitas e resolvidas ocorre um distanciamento entre o desequilíbrio, o estresse e a depressão, o que favorece a melhora do paciente. Podemos concluir que a utilização dos óleos essenciais tem demonstrado um grande valor no relaxamento e estímulo da mente, prevenindo ou retardando a cronificação dos distúrbios emocionais.
A aromaterapia alivia os sintomas emocionais, e tem como principal objetivo o tratamento de várias enfermidades, entre elas, a depressão. A ação terapêutica básica dos óleos essenciais consiste em fortalecer os órgãos e suas funções, bem como agir no mecanismo de defesa do organismo. Sua ação é reforçada por qualquer terapia natural que vise devolver a vitalidade do indivíduo. Para que o tratamento seja eficaz, é necessária a associação de uma dieta balanceada e hábitos de vida saudáveis. Portanto, a aromaterapia contribui significativamente no tratamento da depressão como medida profilática e paliativa, possibilitando uma melhora do estado emocional do paciente, bem como a redução dos efeitos colaterais causados por tratamentos convencionais, fato este que contribui para a não adesão dos pacientes à terapia farmacológica. Acredita-se que a aromaterapia seja uma das melhores opções para a busca do equilíbrio emocional, uma vez que tem crescido muito sua utilização e divulgação pela população científica e leiga.
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Publicado em 23/10/2006
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