Publicado em 31/janeiro/2014
A dieta de baixa caloria (hipocalórica) tradicional e a baseada no sistema de pontos apresentaram resultados semelhantes na redução de peso em adolescentes obesos, como mostra pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). O estudo envolveu 66 jovens residentes na cidade de São Paulo, que foram avaliados pela nutricionista Mara Della Santa Dovichi Mendes. A redução do peso foi progressiva e significativa nas duas dietas. O número de pacientes que concluíram o tratamento foi maior entre os adolescentes que seguiram a dieta tradicional.
Estudo envolveu adolescentes de 13 anos de idade com alto grau de obesidade
A variação de peso medida por meio do escore Z do Índice de Massa Corporal (ZIMC) foi avaliada durante seis meses (oito visitas) em consultas quinzenais no primeiro mês e mensais a partir do segundo mês. “Os pacientes foram divididos em dois grupos, sendo que 31 foram submetidos a orientação de dieta hipocalórica tradicional (Grupo A) e 35 foram orientados a seguir o sistema de pontos (Grupo B)”, conta Mara. “O estudo envolveu adolescentes de 13 anos de idade com ZIMC superior a 3, ou seja, apresentando um grau bastante acentuado de obesidade e circunferência abdominal.”
A análise dos dados laboratoriais no início do estudo mostrou que os pacientes de ambos os grupos apresentavam valores séricos elevados de insulina e proteína C-reativa, que é um marcador de inflamação vascular, ou seja, de aterosclerose, além de resistência à insulina, avaliada pelo índice HOMA-IR , que é um cálculo matemático que envolve glicose e insulina. “A compulsão alimentar foi avaliada no início e final do estudo, por intermédio da Escala de Compulsão Alimentar Periódica, sendo que inicialmente a maioria dos pacientes dos dois grupos não apresentou compulsão alimentar”, aponta a nutricionista. “No entanto, 23,3% e 13,4% dos pacientes do Grupo A apresentaram compulsão alimentar moderada e grave, respectivamente, enquanto que no Grupo B a frequência foi de 18,2% e 0,0%”.
O consumo alimentar habitual dos pacientes dos dois grupos foi avaliado na visita 1, por meio do Recordatório de 24 horas, sendo que a média do valor energético total (VET) nos dois grupos foi de aproximadamente 2.200 quilocalorias (kcal). A porcentagem dos macronutrientes (proteína, carboidrato e lipídio) apresentou-se dentro das porcentagens recomendadas pelo índice Dietary Reference Intakes (DRI), que é a referência das recomendações de consumo alimentar de cada nutriente. Os valores do DRI são calculados pela Association of Medical Device Reprocessors (AMDR), entidade sediada nos Estados Unidos.
Dietas
Na dieta hipocalórica tradicional, depois dos pacientes receberam orientações qualitativas relacionadas à distribuição de macronutrientes baseadas no DRI, foi elaborado um plano alimentar na visita 1. “O consumo alimentar diário destes pacientes foi avaliado pelo registro de consumo alimentar de três dias, no qual o paciente é orientado a preencher em um formulário padronizado, todos os alimentos e bebidas consumidos e suas respectivas quantidades, no momento do consumo durante três dias, sendo dois dias da semana alternados e um dia do final de semana, anteriores à consulta”, descreve Mara.
Na dieta baseada no sistema de pontos, após as orientações qualitativas, foi estipulado na primeira visita um limite diário de pontos a ser consumido, sendo necessário o preenchimento do registro de consumo alimentar diário, com quantificação calórica convertida em pontos, ou seja, um diário alimentar. “O sistema de pontos é uma abordagem nutricional idealizada na década de 1960 pelo professor Alfredo Halpern, da FMUSP, cujo foco central é flexibilizar a escolha dos alimentos, evitando a monotonia do cardápio”, explica a nutricionista. “Cada paciente recebeu inicialmente uma tabela com pontos para cada alimento ou bebida , com cada ponto equivalendo a 3,6 calorias”.
A redução do ZIMC (o grupo A reduziu 0,2 e o grupo B 0,3), dos marcadores metabólicos, como indicadores de inflamação vascular e resistência a insulina e do valor energético total, com redução de carboidratos e aumento de proteínas, foi progressiva e significativa, e aconteceu de forma semelhante entre os dois grupos. Também houve melhora na pressão arterial. “No entanto, ao final do estudo, a taxa de retenção, ou seja, de pacientes que concluíram o tratamento, foi de 80,64% na dieta tradicional e 54,29% no sistema de pontos. Possivelmente, a menor taxa de retenção no Grupo B se deve ao comprometimento de anotação diária dos pontos”, ressalta Mara. “Embora a pesquisa não tenha concluído isso, apesar da escolha livre e da ausência de proibição dos alimentos, um grupo com idade média de 13 anos pode não suportar tão bem a obrigação de fazer o diário alimentar”.
De acordo com a nutricionista, a redução similar nos dois grupos se deve possivelmente ao seguimento nutricional próximo durante o estudo, quando os pacientes ou responsáveis foram contatados por meio de telefonema ou email nos intervalos entre as visitas com periodicidade mensal, para confirmação da presença na visita seguinte e esclarecimento de possíveis dúvidas quanto ao tratamento. A pesquisa foi orientada pelo professor Marcio Corrêa Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Foto: Wikimedia
Mais informações: maramendesnutri@gmail.com, com Mara Della Santa Dovichi Mendes
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