quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Residência Terapêutica possibilita exercício da cidadania

Por Da Redação - agenusp@usp.br
Publicado em 13/fevereiro/2014

Por Marcela Baggini e Tauana Boemer, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto
imprensa.rp@usp.br

Estudo na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), além de reabilitar e inserir pessoas com transtornos mentais na sociedade, favorecem o exercício dos direitos humanos. As SRT são moradias na cidade que acolhem pessoas egressas de internações psiquiátricas de longa duração (dois anos ininterruptos ou mais), que possuem transtornos mentais e não têm familiares ou suporte social.
Para paciente/moradora, SRT representa "o direito de ser gente, ser humano"

A pesquisa revelou também que esses locais representam espaços de proteção para os seus moradores que estão sob a responsabilidade do Estado, assegurando direitos como moradia, lazer e educação. E isso pode ser observado em situações simples como, por exemplo, ao permitir que os moradores visitem seus amigos, participem da organização da casa e possam conversar com todas as pessoas, sentindo-se inseridos e participantes da rotina.

Segunda a autora, a enfermeira Marciana Fernandes Moll, a pesquisa mostrou que os hospitais/instituições onde essas pessoas estavam antes de morarem num SRT cerceavam o exercício dos direitos das pessoas. Em todos os relatos sobre o cotidiano hospitalar, os participantes do estudo enfatizaram a sua falta de liberdade considerando que eram obrigados a seguir as regras preestabelecidas, as quais visavam “manter a ordem” determinada pela instituição. “Esses espaços ofereciam apenas os serviços básicos de hotelaria e não havia uma preocupação em prestar cuidados em prol da recuperação da saúde mental destas pessoas, o que confirma que o objetivo não era prestar assistência, mas simplesmente excluir estas pessoas do convívio social para manter a ordem”.

Os STR se dividem em duas categorias, as que contemplam pessoas que buscam a desinstitucionalização e aquelas que precisam de cuidados constantes devido à perda da autonomia. “A primeira deve priorizar a reestruturação da rede social desses moradores por meio do trabalho, da educação, do lazer e de outras estratégias existentes na comunidade, que favoreçam a reabilitação psicossocial dos mesmos”, conta a pesquisadora. “Já as residências do segundo grupo acolhem pessoas com maior grau de dependência, resultante, sobretudo, de comprometimentos físicos.”

As residências terapêuticas estão sendo “lentamente implantadas no Brasil” com o objetivo de reconstruir a identidade social e os direitos humanos perdidos durante longos períodos de internação de pacientes com transtornos mentais. Conta a pesquisadora que, na década de 90, prioriza-se a criação de redes de serviços extra-hospitalares. Elas deveriam oferecer assistência em saúde mental aos pacientes que estavam em processo de desospitalização e também de desinstitucionalização. Já os STRs vão além e oferecem novas oportunidades àqueles que passaram desses estágios.

Histórias de vida

Durante nove meses, de dezembro de 2011 a setembro de 2012, as pesquisadoras entrevistaram quatro pacientes do SRT de Uberaba, Minas Gerais, três homens e uma mulher, com idade entre 39 e 56 anos. A seleção levou em conta suas condições psíquicas – aspecto fundamental para que pudessem expressar seus sentimentos e relatar lembranças da trajetória de vida. Cada um dos participantes contavam com experiência de cerca de 12 anos em internações psiquiátricas.

Eles relataram suas histórias de vida nos períodos em que viveram em instituições/hospitais psiquiátricos e nas residências terapêuticas. “Isso nos permitiu avaliar, em profundidade, a importância da dinâmica de serviço residencial terapêutico do ponto de vista dos direitos humanos de seus moradores”, afirma Carla Ventura, professora da EERP que orientou o estudo.

O estudo também alertou para a origem destas internações, que muitas vezes buscavam apenas retirar pessoas com “comportamentos considerados inadequados” da sociedade e não tratar pacientes com problemas mentais, conforme alegado na época.

A mudança para o SRT

No SRT, a realidade encontrada pelos moradores, segundo seus relatos, foi diferente: com acomodações necessárias para compor um lar aconchegante e acolhedor, as regras eram combinadas com os moradores em reuniões mensais com uma equipe de supervisão. “É nesse momento que estabeleciam estratégias de motivação para que eles [pacientes que, no SRT, são moradores] exercitassem a cidadania.”

O SRT possibilitou aos participantes do estudo constituir um vínculo de respeito mútuo, bem como vivenciar direitos individuais e sociais inerentes à existência humana. O que está em jogo, segundo uma das entrevistadas na pesquisa “é o direito de ser gente, ser humano”.

A pesquisa de doutorado Dos hospitais psiquiátricos aos serviços residenciais terapêuticos: Um olhar sobre os direitos humanos neste percurso, descreve o cotidiano e a vivência dos direitos humanos de moradores de um SRT da cidade de Uberaba, Minas Gerais, e foi defendida em outubro de 2013.

Foto: Divulgação / Ministério da Saúde OBRA DE ALEXANDRE RAJÃO

Mais informações: email mrcna13@yahoo.com.br

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