terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Extrativismo no bioma Cerrado

Fabiana de Gois Aquino - fabiana@cpac.embrapa.br

O bioma Cerrado possui uma rica diversidade vegetal, apresentando 11.046 espécies de plantas, sendo que, aproximadamente, 40% ocorrem somente neste bioma. A Embrapa Cerrados e seus parceiros vêm identificando grupos de plantas com diferentes possibilidades de uso (alimentar, medicinal, forrageiro, artesanal, ornamental, madeireiro, melífero, condimentar, oleaginoso e outros), que representam, em algumas regiões, a base para o sustento de diversas famílias. Espécies como o pequi, a gueroba, o baru, a mangaba, a faveira, a arnica, o pacari, a mama-cadela, o murici, etc, são utilizadas pelas comunidades locais e geram renda com pequeno impacto no bioma Cerrado. Porém, toda a matéria-prima é retirada da natureza. Conseqüentemente, muitas espécies estão desaparecendo de regiões onde eram fartamente encontradas.

O uso econômico das plantas nativas pelas populações locais normalmente se dá pelo extrativismo. Extrativismo significa resumidamente todas as atividades de coleta e extração de produtos naturais, sejam estes de origem animal, vegetal ou mineral, onde os recursos úteis são retirados diretamente da sua área de ocorrência natural para produzir bens. Na coleta extrativa, se a velocidade da extração for igual à velocidade de recuperação, o ambiente permanecerá em equilíbrio. No entanto, se a extração não respeitar a quantidade necessária para a reprodução da espécie, o ambiente entrará em desequilíbrio. Quando a planta é fortemente explorada sobram poucos indivíduos ou mesmo frutos sadios para que a espécie possa perpetuar-se na natureza. Se mal conduzido, o extrativismo pode ser tão negativo para a manutenção da biodiversidade quanto qualquer outro manejo agrícola ou pecuário mal conduzido, levando a escassez dos recursos naturais.

O extrativismo sustentável diferencia-se do extrativismo predatório, basicamente, porque o primeiro não destrói as fontes de renovação do recurso natural explorado, mantendo assim, os processos ecológicos, enquanto que o extrativismo predatório causa danos severos ao recurso natural explorado reduzindo a capacidade de resiliência desse sistema natural.

Na utilização de qualquer recurso natural é necessário considerar a capacidade de carga do ambiente. Uma vez que a coleta de frutos é atividade essencialmente extrativista no Cerrado, não podemos esquecer que essas também são fontes de alimento para os animais silvestres e permitem a propagação natural da espécie no ambiente. Assim, verifica-se a importância do desenvolvimento de técnicas e procedimentos que permitam a exploração programada da espécie. O uso sustentável é altamente recomendável, pois prevê o planejamento das operações em determinada área, garantindo a perenidade dos recursos naturais. De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) (Lei no. 9.985, de 18 de julho de 2000 e Decreto no. 4.340, de 22 de agosto de 2002) o uso sustentável é “a exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável”.

Ações de manejo e uso dos recursos naturais devem prever o planejamento estratégico para definir a área a ser trabalhada, o tempo de colheita, a oferta de produtos, a localização e os preços de mercado e o custo da matéria-prima, avaliando os efeitos da exploração das plantas sobre as relações ecológicas da espécie e sua regeneração natural.

O manejo e uso dos recursos naturais de forma planejada, racional e sustentável se justificam devido à rápida destruição dos ambientes naturais da região. Toda prática de exploração de recursos naturais necessita ser planejada e adequada à dinâmica da natureza, pois os recursos podem esgotar-se. Dessa forma o planejamento adequado das áreas de desenvolvimento econômico deve ser considerada ação prioritária para assegurar a proteção dos recursos naturais, o equilíbrio natural e a produtividade das terras. O manejo e o uso dos recursos naturais realizados de forma racional permitem dar continuidade à produção, rentabilidade, segurança de trabalho, respeito à lei, oportunidades de mercado, preservação dos recursos naturais e serviços ambientais.


Fabiana de Gois Aquino (fabiana@cpac.embrapa.br) é pesquisadora da Embrapa Cerrados

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