Segundo economista, se a temperatura da Terra subir os dois graus previstos, a fauna e a flora das áreas naturais de todo o mundo estarão ameaçadas
A economia mundial deverá definir, de forma urgente, uma estratégia para proteger os ambientes naturais de forma a garantir a sobrevivência da população e da biodiversidade do planeta. O alerta foi feito pelo economista e ecólogo, Sérgio Bessermann Vianna, durante o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), evento internacional realizado em setembro, em Curitiba.
“A natureza não se recompõe na mesma velocidade da utilização dos recursos naturais necessários para viabilizar o aumento da produção de alimentos e de bens de consumo que a demanda exige. O meio ambiente está no limite para a entrega de serviços que garantem o bem-estar e a sobrevivência da humanidade”, afirmou o economista. Segundo ele, o planeta já ultrapassou três dos nove limites apresentados no estudo ‘Um espaço operacional seguro para a humanidade’, coordenado pelo pesquisador Johan Rockstrom, da Universidade de Estocolmo.
De acordo com o estudo, ‘limites planetários’ são processos que influenciam a habilidade do planeta de manter seus ecossistemas e processos naturais em equilíbrio, o que é indispensável para garantir a sobrevivência e a qualidade de vida das populações. O estudo mapeou nove elementos que são fundamentais para a sustentabilidade da Terra: controle das mudanças climáticas; (alteração na) acidificação dos oceanos; interferência nos ciclos globais de nitrogênio e de fósforo; uso de água potável; alterações no uso do solo; carga de aerossóis atmosféricos (partículas sólidas ou líquidas que ficam suspensas no ar como poeira, fuligem e fumaça); poluição química; e a taxa de perda da biodiversidade, tanto terrestre como marinha. Dos nove, as atividades humanas já ultrapassaram os limites adequados para três: mudanças climáticas, biodiversidade e concentração de nitrogênio na atmosfera.
Vianna afirmou que o uso de fosfatos nitrogenados, base da agricultura moderna, cresceu de forma assustadora nos últimos seis anos. As consequências disso, segundo ele, impactam nos oceanos, onde é percebido o aumento das zonas mortas, áreas onde os níveis de oxigênio sofrem perdas e as espécies marinhas não podem sobreviver. “Isso é inaceitável”, ressalta.
Uma solução, segundo o economista, é que a agricultura adote a combinação de produção e rotação, associada a novas técnicas agrícolas como a agroecologia, que estabelece relações harmônicas entre a agricultura e o meio ambiente, buscando a integração equilibrada da atividade agrícola com ações de preservação.
Para Malu Nunes, diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, a Adaptação com Base em Ecossistemas (AbE) pode contribuir para um aproveitamento mais adequado e inteligente dos recursos naturais. Apesar de estabelecer parâmetros para as comunidades se adaptarem às mudanças climáticas, as estratégias de AbE são bons exemplos que podem ser aplicados para outros fins. “Mexer na microbiota das raízes das plantas cultivadas para que elas absorvam mais nitrogênio ao invés de despejarmos toneladas dele para adubar os solos é um bom exemplo de aproveitamento inteligente dos recursos naturais” disse.
A Fundação Grupo Boticário lançou em janeiro deste ano o estudo ‘Adaptação Baseada em Ecossistemas: oportunidades para políticas públicas em mudanças climáticas’. O modelo prevê o aproveitamento dos serviços ambientais providos pelos ecossistemas conservados, bem como da sua biodiversidade, como parte de uma estratégia de adaptação mais ampla para auxiliar as pessoas e as comunidades a se adaptarem aos efeitos negativos das mudanças climáticas (como secas e enchentes) em níveis local, nacional, regional e global.
Unidades de conservação podem se tornar ineficazes
No que diz respeito à biodiversidade, Vianna enfatizou que 20% a 30% das espécies vivas conhecidas podem ser extintas até 2050. Parte dessa perda será provocada pelas mudanças climáticas. Vianna afirmou que, se confirmados, os dois graus previstos para o aumento da temperatura da Terra colocarão em risco a fauna e flora das áreas naturais de todo o mundo. “O risco de perda de espécies até mesmo em ambientes protegidos é alto diante do cenário climático previsto para os próximos anos”, disse.
Segundo ele, é necessário que o debate sobre o aquecimento global se amplie e resulte em ações efetivas de prevenção à biodiversidade. “Dois graus Celsius mudam tudo e significam que a fauna e flora não estarão mais protegidas mesmo nos parques nacionais. Com relação às mudanças climáticas, a única questão previsível é que já entramos no território do imprevisível”.
Sobre a Fundação Grupo Boticário: a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.439 projetos de 482 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br
in EcoDebate, 14/10/2015
A economia mundial deverá definir, de forma urgente, uma estratégia para proteger os ambientes naturais de forma a garantir a sobrevivência da população e da biodiversidade do planeta. O alerta foi feito pelo economista e ecólogo, Sérgio Bessermann Vianna, durante o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), evento internacional realizado em setembro, em Curitiba.
“A natureza não se recompõe na mesma velocidade da utilização dos recursos naturais necessários para viabilizar o aumento da produção de alimentos e de bens de consumo que a demanda exige. O meio ambiente está no limite para a entrega de serviços que garantem o bem-estar e a sobrevivência da humanidade”, afirmou o economista. Segundo ele, o planeta já ultrapassou três dos nove limites apresentados no estudo ‘Um espaço operacional seguro para a humanidade’, coordenado pelo pesquisador Johan Rockstrom, da Universidade de Estocolmo.
De acordo com o estudo, ‘limites planetários’ são processos que influenciam a habilidade do planeta de manter seus ecossistemas e processos naturais em equilíbrio, o que é indispensável para garantir a sobrevivência e a qualidade de vida das populações. O estudo mapeou nove elementos que são fundamentais para a sustentabilidade da Terra: controle das mudanças climáticas; (alteração na) acidificação dos oceanos; interferência nos ciclos globais de nitrogênio e de fósforo; uso de água potável; alterações no uso do solo; carga de aerossóis atmosféricos (partículas sólidas ou líquidas que ficam suspensas no ar como poeira, fuligem e fumaça); poluição química; e a taxa de perda da biodiversidade, tanto terrestre como marinha. Dos nove, as atividades humanas já ultrapassaram os limites adequados para três: mudanças climáticas, biodiversidade e concentração de nitrogênio na atmosfera.
Vianna afirmou que o uso de fosfatos nitrogenados, base da agricultura moderna, cresceu de forma assustadora nos últimos seis anos. As consequências disso, segundo ele, impactam nos oceanos, onde é percebido o aumento das zonas mortas, áreas onde os níveis de oxigênio sofrem perdas e as espécies marinhas não podem sobreviver. “Isso é inaceitável”, ressalta.
Uma solução, segundo o economista, é que a agricultura adote a combinação de produção e rotação, associada a novas técnicas agrícolas como a agroecologia, que estabelece relações harmônicas entre a agricultura e o meio ambiente, buscando a integração equilibrada da atividade agrícola com ações de preservação.
Para Malu Nunes, diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário, a Adaptação com Base em Ecossistemas (AbE) pode contribuir para um aproveitamento mais adequado e inteligente dos recursos naturais. Apesar de estabelecer parâmetros para as comunidades se adaptarem às mudanças climáticas, as estratégias de AbE são bons exemplos que podem ser aplicados para outros fins. “Mexer na microbiota das raízes das plantas cultivadas para que elas absorvam mais nitrogênio ao invés de despejarmos toneladas dele para adubar os solos é um bom exemplo de aproveitamento inteligente dos recursos naturais” disse.
A Fundação Grupo Boticário lançou em janeiro deste ano o estudo ‘Adaptação Baseada em Ecossistemas: oportunidades para políticas públicas em mudanças climáticas’. O modelo prevê o aproveitamento dos serviços ambientais providos pelos ecossistemas conservados, bem como da sua biodiversidade, como parte de uma estratégia de adaptação mais ampla para auxiliar as pessoas e as comunidades a se adaptarem aos efeitos negativos das mudanças climáticas (como secas e enchentes) em níveis local, nacional, regional e global.
Unidades de conservação podem se tornar ineficazes
No que diz respeito à biodiversidade, Vianna enfatizou que 20% a 30% das espécies vivas conhecidas podem ser extintas até 2050. Parte dessa perda será provocada pelas mudanças climáticas. Vianna afirmou que, se confirmados, os dois graus previstos para o aumento da temperatura da Terra colocarão em risco a fauna e flora das áreas naturais de todo o mundo. “O risco de perda de espécies até mesmo em ambientes protegidos é alto diante do cenário climático previsto para os próximos anos”, disse.
Segundo ele, é necessário que o debate sobre o aquecimento global se amplie e resulte em ações efetivas de prevenção à biodiversidade. “Dois graus Celsius mudam tudo e significam que a fauna e flora não estarão mais protegidas mesmo nos parques nacionais. Com relação às mudanças climáticas, a única questão previsível é que já entramos no território do imprevisível”.
Sobre a Fundação Grupo Boticário: a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.439 projetos de 482 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br
in EcoDebate, 14/10/2015
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