Informe Ensp
Os aspectos psicossociais do trabalho influenciam na prevalência da compulsão alimentar e essa associação obtém chances diferenciadas entre magros e obesos. Esse resultado, apresentado pela aluna Ana Paula Bruno Pena Gralle, do mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), advém da análise transversal com dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) – uma pesquisa multicêntrica de coorte que acompanha funcionários públicos de seis instituições públicas das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, entre elas a Fiocruz, com o propósito de investigar a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas, em particular, as cardiovasculares e o diabetes. Do total de 12.096 trabalhadores ativos, 11.951 compuseram a amostra analítica. A dissertação foi orientada pela pesquisadora Rosane Härter Griep.
Segundo Ana Paula, o estresse psicossocial no trabalho está associado à compulsão alimentar sob três aspectos: alta exigência, trabalho ativo e trabalho passivo. “A dimensão demandas psicossociais foi positivamente associada ao desfecho, enquanto a percepção de maior controle no trabalho foi inversamente associada à compulsão alimentar. Observou-se modificação da associação entre estresse no trabalho e compulsão alimentar pelo Índice de Massa Corporal’’, explicou.
Hábitos alimentares saudáveis podem contribuir para a redução de riscos de ocorrência de doenças crônicas, como hipertensão arterial, câncer e obesidade. De acordo com o Elsa-Brasil, as doenças crônicas são responsáveis pelos maiores índices de mortalidade e morbidade no Brasil. Seu aumento substancial não só traz consequências negativas para a qualidade de vida da população adulta do país, como também responde pelos maiores gastos com assistência hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS).
No entanto, para o estudo, ainda existem importantes lacunas de conhecimento sobre a incidência das enfermidades crônicas e seus fatores de risco. Políticas de controle dessas doenças têm sido formuladas de acordo com informações de estudos oriundos de países desenvolvidos. Dentro dessa conjuntura, o Elsa-Brasil surge como pesquisa essencial para uma gestão da saúde pública no Brasil.
Em cada centro integrante do estudo Elsa-Brasil, os sujeitos da pesquisa – com idade entre 35 e 74 anos – fazem exames e entrevistas nas quais são avaliados aspectos como condições de vida, diferenças sociais, relação com o trabalho, gênero e especificidades da dieta da população brasileira. As seis instituições que integram o Elsa são: Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro), Universidade de São Paulo (USP), e as universidades federais da Bahia (UFBA), Espírito Santo (Ufes), Minas Gerais (UFMG) e Rio Grande do Sul UFRGS).
Além de fomentar o desenvolvimento de novas investigações, o estudo será fundamental para a adequação de políticas públicas de saúde às necessidades nacionais. O Elsa-Brasil torna-se possível pelo interesse do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência e Tecnologia em realizar pesquisas nacionais de grande porte sobre a saúde da população adulta no Brasil.
O Elsa-Brasil também tem como meta a qualificação de profissionais em epidemiologia de doenças crônicas e o fortalecimento da pesquisa científica nesse campo temático. Ultrapassando os limites nacionais, também pretende tornar-se referência para populações de outros países com características próximas à brasileira.
Informe Ensp, in EcoDebate, 13/01/2016
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