quarta-feira, 17 de abril de 2013

Jovens na agroecologia

28/02/2013
Interessados em ter uma vida mais saudável, muitos jovens têm se identificado com os princípios da agroecologia. A Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil (Rega) reúne estudantes de agronomia, engenharia florestal, biologia, geografia, entre outros cursos, engajados em movimentos em defesa do uso de sementes crioulas (selecionadas pelos produtores, sem modificações em laboratórios), da agricultura familiar e da reforma agrária.

Os grupos costumam ir ao campo para trocar conhecimento com os trabalhadores rurais, além de ajudá-los a plantar agroflorestas e a fazer casas de sementes. "Quando alguém estuda agroecologia, começa a ter um respeito muito grande pelo conhecimento popular, que não é nem melhor nem pior do que o da academia. O que se propõe é um diálogo de saberes que se complementam", diz o engenheiro agrônomo Denis Monteiro, secretário executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

Muitos desses jovens decidem morar em áreas rurais, fazer horta, criação animal, plantio de frutíferas. Para os que já moram no campo, a ideia de continuar cuidando da plantação da família, trabalhando em condições dignas e sem contato com venenos, pode ser bem mais interessante do que migrar para as periferias das cidades. Além disto, a atividade permite a relação direta com os consumidores, nas feiras orgânicas e no abastecimento dos pequenos mercados.

O objetivo da agricultura agroecológica é tornar a plantação equilibrada ambientalmente, com o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais. Experiências já comprovaram que é possível ter uma alta produtividade com diversidade do que é produzido, usando adubo natural, e o melhor: sem uso de veneno. Ou seja, os alimentos são orgânicos e, consequentemente, mais saudáveis.

Modelo agroquímico

A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) reivindica políticas públicas para o estímulo das experiências agroecológicas e denuncia o avanço do modelo de agricultura industrial (agroquímico). O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e os agricultores estão intoxicados com os venenos e mais dependentes das multinacionais produtoras de pesticidas, fertilizantes químicos e sementes transgênicas (modificadas em laboratório).

Segundo dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) divulgado em 2012, um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado por agrotóxicos e o contato direto com os venenos pode causar problemas respiratórios, alergias, câncer, entre outras enfermidades.

O modelo agroquímico gera desequilíbrio ambiental, desmatamento, assoreamento dos rios e expulsa os pequenos trabalhadores do campo. Ele trabalha em regime de monocultura, que é o plantio de uma única espécie em larga escala (como o milho ou a soja), aplicando fertilizante industrial, agrotóxico e queimada. Tudo isto enfraquece o solo. Segundo Denis Monteiro, com o tempo, é preciso aumentar a quantidade de fertilizantes e agrotóxicos.

Já o sistema agroecológico, busca o equilíbrio do ambiente, e a produtividade aumenta. Além disto, diminui os custos porque elimina o uso de insumos externos, informa o agrônomo. O modelo engloba qualidades importantes para esta geração, como biodiversidade, sustentabilidade e saúde. "É um mito dizer que se não fosse o agronegócio, não seria possível alimentar 7 bilhões de pessoas", diz Denis Monteiro.

Valorização da diversidade

Um dos programas que têm fortalecido a agroecologia no campo é a parceria das organizações de agricultores com o governo brasileiro. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) compra a produção de agricultores familiares e usa os alimentos na merenda das escolas e em outros programas de promoção da segurança alimentar. O objetivo é aumentar a diversidade e estimular a produção de alimentos orgânicos.

Em agosto de 2012, um decreto presidencial instituiu a Política Nacional de Agroecologia, e mostrou a importância da valorização da biodiversidade ao permitir que os agricultores comercializem sementes crioulas. Mas para Denis Monteiro, ainda falta pressão popular para que o governo invista na substituição do modelo agroquímico pelo agroecológico.

(Rovena Rosa)
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