domingo, 18 de novembro de 2012

As ervas do Ver-O-Peso em Belém e suas funções contra o diabetes

Pesquisa do Museu Goeldi reúne dados sobre a presença de flavonoides em espécies medicinais da região. Uma das espécies estudadas apresenta teor da substância, que é comprovadamente antidiabética, no mesmo nível do que contém o café e o vinho tinto.

Agência Museu Goeldi - Pata de vaca. Já ouviu falar? Uma espécie medicinal conhecida no mundo científico como Bauhinia variegata, tem um teor de flavonoides comparável ao do vinho tinto, o maior já encontrado, e recomendável em uma dieta humana que quer preservar células e se defender de inflamações e até do câncer.

O diabetes é uma das cinco doenças que mais matam no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, a estatística assusta: 50 mil pessoas morrem por ano em decorrência da doença.

E os números são ainda mais contundentes: projeções do organismo internacional revelam que, até 2020, o diabetes acometerá 300 milhões de pessoas.

Pesquisas científicas têm se voltado para as plantas medicinais como alternativa de tratamento contra o diabetes. No Museu Goeldi, instituto de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), estudo desenvolvido no Laboratório de Análise Químicas e coordenado pela Dra. Cristine Amarante realiza a medição de flavonoides em ervas comercializadas no Mercado do Ver-O-Peso, em Belém do Pará.


Contra o diabetes - Os flavonoides são compostos aromáticos comuns em frutas, vegetais e bebida, como os chás e os vinhos. Essenciais para a saúde humana, devem constar da dieta diária por suas capacidades de preservar as células (função antioxidante), de combater inflamações e o câncer.

De autoria de Fábio Bruno de Souza, a pesquisa orientada pela Dra. Cristine Amarante dosa o teor de flavonoides totais (TFT) em ervas medicinais comercializadas como antidiabéticas no Mercado do Ver-O-Peso. É que, de acordo com o conhecimento popular, algumas espécies podem ser eficazes no combate ao diabetes.

Cristine e Fábio trabalham com quatro das ervas das mais vendidas para testar em processos de infusão e decocção por 5, 10 e 15 minutos. As ervas analisadas no estudo do Goeldi são: folhas de insulina (Cissus sicyoides); pata de vaca (Bauhinia variegata); pedra ume caa (Myrcia sphaerocarpa); e cipó-mirauíra (Salacia impressifolia).

Segundo a pesquisadora, experimentos com a dieta humana têm apontado que “o consumo de alimentos ricos em flavonoides  tais como chás, foi associado a um aumento significativo nos níveis plasmáticos de flavonoides em pacientes diabéticos”.

Na prática, isso corresponde à possibilidade de a substância flavonoide  encontrada na natureza, “preservar a função das células β (beta), responsáveis por sintetizar e secretar a insulina” necessária para regular os níveis de açúcar no sangue, que em excesso, provocam o diabetes e inúmeras outras doenças dela geradas.

Em pacientes com tendência ao diabetes, com dificuldade de produzir a insulina que regula a quantidade de açúcar no sangue, o consumo de flavonoides naturais obtidos em chás pode reduzir “o dano tecidual induzido por estresse oxidativo e proteger contra a progressão da resistência à insulina no diabetes tipo 2”.

Os testes – Nessa etapa do estudo, das quatro espécies testadas, a insulina (Cissus sicyoides) foi a que apresentou o maior teor de flavonoides totais (TFT) em todas as formas de preparo. A infusão das folhas - que consiste apenas em se adicionar água fervente sobre as mesmas e deixar em repouso até resfriamento - apresentou um teor de 17,46 µg mL-1, valor este comparável ao encontrado no chá preto que é uma bebida conhecida por apresentar uma das maiores concentrações de flavonoides, em torno de 10 - 25 µg mL-1. Já pelo método da decocção - que implica em deixar as folhas em fervura - um teor ainda maior de flavonoides (35,86 µg m L-1) foi liberado para o chá quando o tempo foi de 15 minutos de fervura.

Os chás das ervas pata de vaca (Bauhinia variegata), pedra ume caa (Myrcia sphaerocarpa) e cipó-mirauíra (Salacia impressifolia) apresentaram teores similares entre si mas inferiores aos da insulina, variando entre 5 a 14 µg mL-1 nas diferentes preparações, sendo que nestes chás os níveis de flavonoides caíram com o tempo de aquecimento. Para estes chás foi observado que a decocção, por 10 minutos, liberou maior teor de flavonoides do que a que levou 15 minutos. Para a pesquisadora, a queda pode resultar da possível degradação térmica dos flavonoides com o aumento do tempo de decocção, o que leva à hipótese de que o tipo de flavonoide encontrado no chá da insulina apresente uma maior estabilidade térmica e consequentemente uma maior capacidade antioxidante, indicando um potencial interesse farmacológico que vale a pena ser investigado e identificado, o que consistirá na próxima etapa da pesquisa.

Numa metodologia onde a precisão é primordial, a pesquisadora e seu aluno elegeram a região ultravioleta-visível da técnica de espectrofotometria que mede as intensidades das radiações emitidas ou absorvidas. Para tanto, usaram a rutina como padrão de flavonoide e cloreto de alumínio a 5% como reagente.

Os chás de pata de vaca, pedra ume caa e cipó-mirauíra, embora contenham teores inferiores aos do chá de insulina são tão boas fontes de flavonoides  que se comparam aos observados no vinho tinto (4 – 16 µg mL-1), superando o café, o achocolatado e o vinho branco cujo teor é de aproximadamente 1 µg mL-1. Entretanto, a mais interessante revelação desta pesquisa é que justamente a erva denominada de "insulina" pelo conhecimento tradicional parece fazer jus ao nome, cabendo-nos agora continuar a investigação com estudos químicos mais detalhados na busca por esta substância que poderá ser um princípio ativo de grande interesse.

O Diabetes 2 - Segundo informe da Sociedade Brasileira do Diabetes, o Diabetes tipo 2, também conhecido como diabetes não insulinodependente ou diabetes do adulto, corresponde a 90% dos casos de diabetes.

Esse tipo de diabetes ocorre geralmente em pessoas obesas, com mais de 40 anos de idade, embora, na atualidade, se veja com maior frequência em jovens, em virtude de maus hábitos alimentares, sedentarismo e stress da vida urbana.

No Diabetes tipo 2, encontra-se a presença de insulina, porém sua ação é dificultada pela obesidade, o que é conhecido como resistência insulínica, uma das causas de hiperglicemia, excesso de açúcar no sangue.

Por ser pouco sintomático, o diabetes, na maioria das vezes, permanece, por muitos anos, sem diagnóstico e sem tratamento, o que favorece a ocorrência de suas complicações no coração e no cérebro.

Data: 12.11.2012
Link: 
http://www.museu-goeldi.br/sobre/NOTICIAS/2012/novembro/12_11_2012d.html
Salacia impressifolia
http://ecologia.ib.usp.br/guiaigapo/familias/hippocrateaceae/salacia_impressifolia/salacia_impressifolia.html
Myrcia uniflora (sin. Myrcia sphaerocarpa)
http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=975
Foto: Martin Molz

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