quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Uma experiência fascinante: Schumacher College


Publicado em 15/07/2013
*por Izabella Ceccato

Aprender, conviver, rir e conversar com pessoas iluminadas realmente é um privilégio. E assim aconteceu comigo no Schumacher College.
Um “Opening Circle” abre todos os cursos. Nele, os novos alunos e o corpo docente e administrativo da escola apresentam-se, numa reunião de acolhimento e conhecimento mutuo.

O ambiente colaborativo e multiétnico favorece o ensino e o aprendizado. Alunos, voluntários, staff e professores com os mesmos objetivos, convicções e amores compartilham experiências, planos e esperanças. A rotina começa às 7h15min com uma meditação, seguida por café da manhã. As 8h15min, todos se encontram na sala principal da sede da escola para a reunião matinal de 15 minutos que inicia com a leitura de um poema, texto ou pensamento. Depois, o planejamento do dia e para finalizar um movimento, alongamento ou um momento de silêncio.

A sequência dos dias acontece com aulas teóricas, vivências e imersões em campo. As aulas são recheadas de novos pensamentos e conhecimentos. Alunos do Brasil, Nepal, Suíça, Suécia, Itália, Arábia Saudita, Reino Unido, de todas as idades convivem juntos, todo o tempo, aprendendo e ensinando costumes, cultura, idiomas e treinando paciência e novas maneiras de fazer o mesmo. No meio disso tudo surge Emily Ryan, a facilitadora do curso. Trata-se de uma norte-americana forte, dedicada, às vezes durona, mas muito sensível e gentil, que tem como função agregar sentimentos, costumes locais, alunos, professores e escola sempre com uma sabedoria intrigante. Linda e rica essa diversidade.
Os mestres nos brindam diariamente com suas experiências e vivências sem precedentes.

Fritjof Capra idealizador do conceito Ecoliteracy (Alfabetização Ecológica), deu origem ao nosso curso, que tem como principal objetivo reconectar os seres humanos com o planeta Terra, compartilhou seus pensamentos e ensinamentos conosco. Perguntei a ele sobre como implantar a alfabetização ecológica no Brasil, um país tão grande e com uma educação básica ainda tão deficitária. A resposta não veio exatamente dele, mas eu a encontrei durante do curso. Discutimos bastante o termo Alfabetização Ecológica e o impacto desse conceito nas pessoas. O termo “alfabetização” remete a necessidade de aprendizado, algo que muitos seres humanos não lidam bem após crescidos, pois se acham sabedores de praticamente tudo.

Stephan Harding fez uma ”viagem” pelo surgimento da Terra e da vida, 4,6 bilhões de anos atrás. Relacionou as complexas teorias “System Thinking”, ”Goethe Science” e “Gaia Theory” com uma facilidade incrível e por fim, após muita teoria, propôs uma caminhada por uma trilha ao longo do oceano, relacionando seus 4,6km com a idade da Terra. Nessa vivencia Stephan, venezuelano, carismático e autor de livros como “Animate Earth”, abordou conosco assuntos como a vida dos animais, plantas, biosfera, beleza, surgimento da vida na Terra, nossa responsabilidade, Deus. Dia intenso, com um aprendizado real, que, com certeza, se fixou nas nossas entranhas.
Professora fenomenal, Antonia Spencer se dedicou aos nossos sentimentos aqui e agora, nossa interação real com a Terra e conosco, a importância de saber ouvir mais do que falar, observar, se perceber e perceber o outro e tudo a nossa volta. Fizemos exercícios práticos em dupla, onde cada um descrevia o que via, ouvia e sentia naquele exato momento, sem absolutamente nenhuma interação da outra pessoa que estava ali apenas para ouvir e receber. Foi aí que me caiu uma ficha: “Impossível tentarmos inspirar outros, sem antes nos respeitarmos e nos inspirarmos por nós mesmos”. A natureza se fazia presente fisicamente dentro daquela sala, era como se as plantas, árvores e pássaros nos abraçassem. Simplesmente fantástico!

O bar da escola abre todos os dias das 21h30 às 23h e diariamente nos encontramos ali para dividirmos nossas felicidades e aflições depois de aprendizados tão profundos!

Satish Kumar. Não tenho palavras para descrever essa figura tão intensa e serena. Fundador do Schumacher College, 20 anos atrás, monge, militante da paz, autor de inúmeros livros, Satish nos inspira apenas com a sua presença. Homem de personalidade forte, mostra sua paixão nas pequenas coisas, na maneira de viver e na forma de se expressar. Satish falou sobre “Solo, alma e sociedade”. Suas colocações como: “Precisamos migrar da sociedade EGOliteracy: eu, minhas coisas, minhas conquistas para ECOliteracy: nós, comunidade, relacionamentos, Terra, Planeta”, nos fazem refletir sobre nossa presença no mundo, nossa interação com o Planeta que nos acolhe e sobre nossa responsabilidade nessa vida. Divino!
Matemático com mestrado em ciências holísticas pelo Schumacher College, Philipe Franses teve a missão de nos ajudar a aprofundarmos os conceitos da “Complexity Theory” e "System Thinking”. Conceitos absurdamente difíceis e recheados de fórmulas, mas que nos mostram uma maneira integral de ver o mundo. A teoria deu um nó no nosso cérebro, mas com exercícios práticos, estimulou nossos sentidos e nos ajudou ainda mais (se é que isso é possível!) a nos conectar com a natureza, numa total inter-relação de amor e proximidade. Espetacular!

Enfim, estou estonteada, anestesiada, fascinada. Se eu pudesse, levaria todas as pessoas do mundo para uma semana no Schumacher College, que, com certeza, seria literalmente transformador para o mundo! Agora, só me resta permanecer empolgada inspirando outros, quebrando paradigmas, promovendo a mudança que queremos ver no mundo, nas pessoas e em nós mesmos.

*Estar na escola, longe de tudo e inserida nessa experiência sem igual foi a fagulha que iniciou tudo, foi o ponto de partida para a criação da Eco Rede Social, e o Schumacher College nos apoia desde o início. É uma honra saber que estamos no caminho certo e que a inspiração que tivemos lá, faz sentido hoje num trabalho sério, alegre e motivador, divulgando iniciativas que fazem um mundo melhor. 

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