“A eficiência energética do petróleo é, até hoje, inigualável: três colheres contêm o
equivalente à energia média de oito horas de trabalho humano. O crescimento
demográfico e econômico do século 20 teria sido impossível sem esse
escravo barato” (Ricardo Abramovay, 11/06/2011)
[EcoDebate] Existe uma alta correlação entre o preço do petróleo e o preço da comida. Quando o preço da energia sobe, em geral, aumenta também o preço dos alimentos.
Ao longo do século XX o preço dos combustíveis fósseis caiu e puxou para baixo o preço médio da comida. Houve alguns momentos de inflação da energia e dos alimentos, como na década de 1970 (devido a guerra do Yom Kippur) e início dos anos de 1980 devido à guerra Irã-Iraque. Mas no final da década de 1990 os preços das commodities fósseis estavam em seus níveis mais baixos do século.
Tudo mudou desde a virada do milênio. Os preços do petróleo subiram e puxaram para cima o preço dos alimentos. O ano de 2008 foi de aumento generalizado dos combustíveis fósseis e da comida. A crise econômica de 2009 jogaram os preços para baixo. A retomada de 2010 e 2011 voltou a jogar os preços para cima.
Neste segundo semestre de 2013 o preço do barril de petróleo (WTI) tem permanecido em torno de US$ 100,00 (quando era cerca de US$ 20,00 em 2000) e o índice de preço dos alimentos da FAO está acima de 210 pontos em setembro de 2013 (quando era 100 pontos na média de 2002-2004).
A proximidade do “pico do petróleo”, seja pelo lado da produção, da demanda ou da erosão da EROEI http://www.ecodebate.com.br/dx2 , juntamente com o agravamento das condições ambientais tende a jogar o preço da energia e da comida para patamares mais elevados. Os preços tendem a se manter (ou até cair) somente se houver um crise econômica com diminuição do PIB e aumento do desemprego.
O pico do petróleo permanece como uma ameaça à continuidade do atual modelo marrom de desenvolvimento. Desta forma, os cenários não são reconfortantes, pois se a economia crescer e o desemprego diminuir haverá aumento do preço da energia e dos alimentos; e se estes preços cairem é porque o desemprego aumentou.
Em ambos os cenários pode-se esperar um crescimento das manifestações populares e o surgimento dos indignados com a atual ordem vigente, que estão reconfigurando o mapa político do mundo.
Como indicado pelo colunista da Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman, o Relatório do NECSI (New England Complex Systems Institute) publicado em 2011, mostra que há uma correlação importante entre o aumento do preço dos alimentos, calculados pela FAO (agência da ONU para a agricultura) e a ocorrência de protestos em todo o mundo. Sempre que o índice da FAO sobe, ocorrem mais manifestações.
Subindo o preço do petróleo, em geral, sobe também o preço dos alimentos. Como mostram os pesquisadores do NECSI, pode-se esperar novas agitações sociais em escala global a partir do agravamento dos problemas da segurança alimentar e dos problemas gerados pelos eventos climáticos extremos.
Referências:
FMI, WEO. Cap. 3. Setembro de 2011 – http://www.imf.org/external/index.htm
NECSI – New England Complex Systems Institute: http://necsi.edu/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 20/12/2013
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