11.12.2013
A espinhosa casca do abacaxi, sempre descartada por quem consome a fruta, foi usada para extração de uma enzima que ajuda na melhor recuperação de queimaduras, a bromelina. Em uma pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, ela foi extraída e aplicada ao hidrogel, uma espécie de curativo feito de água. “Quando você tem uma queimadura, onde tem tecido viável e tecido morto, a bromelina atua no tecido morto removendo-o e deixando o tecido vivo intacto”, explica a farmacêutica Letícia Celia de Lencastre Novaes, autora do estudo.
A propriedade relacionada às queimaduras é chamada de debridamento. Nas feridas onde há tecido morto junto à pele que ainda está viva, este primeiro pode promover uma espécie de apodrecimento das áreas viáveis. A remoção pode ser feita de diversas formas, como a cirúrgica, mas “a bromelina é uma alternativa segura, já que ela não causa nenhum dano ao tecido viável, remove estas impurezas e auxilia na cura da queimadura”, conta Letícia. Apenas encontrada na família do abacaxi, a bromelina também tem ação antiinflamatória e pode diminuir as metástases de células de tumores.
Para a extração da enzima, a farmacêutica usou cascas do abacaxi que iriam para o lixo, de uma indústria que produz polpa. “É um meio de a gente pegar o lixo e transformar em um produto que, no nosso caso, tem ação inclusive medicamentosa”, explica ela. Depois de bater as cascas no liquidificador e separar as fibras, ela misturou o suco restante com dois polímeros imiscíveis entre si, o polietileno glicol e o e ácido poliacrílico. O repouso de cerca de duas horas faz com que duas fases se diferenciem, sendo uma delas rica em bromelina. Este processo de extração se chama sistema de duas fases aquosas.
O hidrogel
A bromelina, aplicada a um polímero cria o hidrogel
Letícia desenvolveu um modo de a enzima ser aplicada ao hidrogel polimérico e este liberar a substância no ferimento. O hidrogel se aproxima de um curativo ideal, pois este deixa a ferida úmida, para criar um ambiente propício para a recuperação do tecido, mas não tão úmida a ponto de ocorrer o crescimento de patógenos. Para isto, ela viajou à Universität Regensburg, na Alemanha, em um doutorado-sanduíche. Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), esta modalidade de estudo ocorre quando um pesquisador vai a outro país para aprimorar os estudos lá. A instituição foi escolhida por ter um grupo de estudos dedicado à produção do hidrogel.
A enzima extraída no Brasil foi enviada à farmacêutica para que lá ela pudesse concluir os estudos de aplicação da bromelina ao hidrogel. Os pesquisadores de seu laboratório no Brasil, então, fizeram com que a solução líquida se tornasse pó, através de um processo chamado liofilização.
A pesquisa Extração de bromelina dos resíduos de abacaxi (Ananas comosus) por sistemas de duas fases aquosas e sua aplicação em hidrogel polimérico foi concluída em novembro deste ano. Os orientadores foram Adalberto Pessoa Júnior, do Laboratório de Enzimologia Industrial da FCF e Priscila Gava Mazzola, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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MUITO INTERESSANTE, MARCOS
ResponderExcluirUm passo muito importante para a diminuição do sofrimento dos traumatizados por queimadura.