quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Plectranthus barbatus Andr. (Lamiaceae) - Texto extraído do Boletim PLANFAVI (Sistema de Farmacovigilância de Plantas Medicinais)

Planta em foco: Plectranthus barbatus Andr. (Lamiaceae)

Arbusto aromático perene, de ramos eretos e sublenhosos, que atinge de 1,0 a 1,5m de altura. As folhas são ovado-oblongas, pilosas e grossas com bordos denteados. As flores de coloração azulada crescem em espigas na estação chuvosa. Sua origem é atribuída à África, sendo amplamente cultivado no Brasil.

Vulgarmente conhecido como boldo nacional, boldo do Brasil, sete dores e tapete de oxalá. São conhecidas
também como boldo, Peumus boldus Molina (Monimiaceae), Coleus barbatus (Andrews) Benth. (Lamiaceae) e Vernonia condensata Baker (Asteraceae).

Usos populares: em todo o Brasil é reconhecida para o tratamento dos males do fígado e de problemas da
digestão.

Fitoquímica: óleos voláteis (guaieno, fenchona), flavonoides e, destacando-se, os diterpenos (coleonol, forskolin) aos quais é atribuída a maioria das atividades farmacológicas.

Farmacologia: entre as ações sugeridas em estudos préclínicos e clínicos estão: hipotensiva, inotrópica positiva, cardiovascular, bronco-dilatadora, ativação da adenilato ciclase, inibição da agregação plaquetária (antimetástase), antitumoral, antinociceptiva e antiinflamatória. Entretanto, esta espécie não pode ser associada com medicamentos tipo metronidazol ou dissulfiram.

Costa, MCCD. Uso popular e ações farmacológicas de Plectranthus barbatus Andr. (Lamiaceae) revisão dos trabalhos publicados de 1970 a 2003. Rev. Bras. Pl. Medicinais. 8:81-88. 2006.

Lehár et al. Synergistic drug combinations tend to improve therapeutically relevant selectivity. Nature Biotechnology. 27: 659-666. 2009.

Resumo dos Estudos

a. Boldo como inibidor da AChE

Este estudo objetivou determinar a atividade da infusão de P. barbatus (Lamiaceae) como inibidora da acetilcolinesterase cerebral (AChE). A infusão, assim como o seu componente principal, o ácido rosmarínico, foram administrados em ratos, avaliando-se as atividades AChE tanto no plasma quanto no cérebro. O extrato aquoso foi administrado intragastricamente (ig) e também por via intraperitoneal (ip). Foi observado que, quando administrado pela via ig, quantidades vestigiais de metabólitos estavam presentes no plasma, mas não no cérebro, embora a inibição da atividade da AChE cerebral tenha sido detectada. No entanto, quando utilizou-se a via ip, todos os seus compostos foram encontrados no plasma, e o ácido rosmarínico foi detectado no cérebro. Estes resultados demonstraram que a administração doextrato aquoso de P. barbatus pode chegar ao cérebro e atuar como inibidor da AChE.

Referência
Fale, PLV et al. Function of Plectranthus barbatus herbal tea as neuronal acetylcholinesterase inhibitor. Food & Function. 2: 130-136. 2011.

b. Boldo: relaxante e antiespasmódico intestinal

Os efeitos do óleo essencial de P. barbatus (OEPB) em concentrações variando de 1 a 300μg/mL e alguns dos seus componentes principais (alfa-pineno, mirceno e cariofileno) nas proporções e quantidades encontradas no óleo, foram estudados na contratilidade do íleo de cobaia. OEPB diminuiu o tônus basal do íleo com uma resposta máxima enquanto que os outros constituintes tiveram apenas um ligeiro efeito. OEPB também bloqueou as contrações fásicas evocadas por acetilcolina. As contrações induzidas pela histamina ou pelo cloreto de bário foram também atenuadas pelo OEPB. Os outros compostos não tiveram efeitos significativos. Além disso, na maior concentração usada (300μg/mL), OEPB diminuiu a resposta máxima da contração induzida por cloreto de cálcio em tecidos despolarizados. Ao mesmo tempo, o componente da contração, em tecidos tratados, provocada por uma dose única de carbacol adicionado em nifedipina ou em concentração muito baixa de cálcio extracelular foram bloqueados por OEPB (300μg/mL). Estes dados mostram que OEPB tem atividade relaxante e antiespasmódica intestinal e sugerem que este efeito não está relacionado com antagonismo em receptores extracelulares para neurotransmissores ou autacóides; provavelmente pode estar relacionado à interferência com os mecanismos de entrada ou liberação de cálcio a partir de reservas internas. O princípio ativo principal para a sua atividade relaxante e espasmolítica parece ser alfa-pineno. 

Referência
Camara et al. Antispasmodic effect of the essential oil of Plectranthus barbatus and some major constituents on the guinea-pig ileum. Planta Medica. 69: 1080-1085. 2003.

c. Boldo - da etnobotânica aos medicamentos

P. barbatus tem uma grande variedade de usos na medicina tradicional Hindu e Ayurvédica, bem como na medicina popular no Brasil, África tropical e China. A planta tem sido, portanto, um importante alvo para estudos químicos e farmacológicos. Além do óleo essencial, os diterpenóides abietano e epoxilabdenona são os principais constituintes encontrados em P. barbatus. Os principais usos etnobotânicos são para distúrbios intestinais, fadiga hepática, distúrbios respiratórios, doenças cardíacas e certos distúrbios do sistema nervoso. Forscolina é um dos principais constituintes de P. barbatus. A potente ativação pela forscolina da adenilato ciclase, que está na base de uma ampla gama de propriedades farmacológicas, poderia explicar os diferentes usos tradicionais desta planta. Forscolina está envolvida num certo número de preparações farmacêuticas patenteadas utilizadas como medicamentos de venda livre para o tratamento de várias doenças. No entanto, a natureza insolúvel da forscolina em solventes aquosos limita a sua utilidade clínica.

Referência
Alasbahi et al. Plectranthus barbatus: A Review of Phytochemistry, Ethnobotanical Uses and Pharmacology. Planta Medica. 76: 653-661. 2010.

Para saber mais: Schultz et al. Inhibition of the gastric H+,K+-ATPase by plectrinone A, a diterpenoid isolated from Plectranthus barbatus Andrews. Journal of Ethnopharmacology. 111: 1-7. 2007.


Boletim  PLANFAVI N. 21, janeiro à março de 2012
Sistema de Farmacovigilância de Plantas Medicinais
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File:Plectranthus barbatus.jpg

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